Opinião

Não existe pecado ao sul do equador, por Murillo de Aragão

  Toda política é local. A frase é atribuída a Tip O’Neill, ex-presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, e cabe muito bem no caso do Brasil, onde os interesses paroquiais predominam sobre o interesse nacional.
Quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) admite que a lei permite que partidos façam alianças e coligações estaduais diferentes das alianças no plano federal, está legalizando a “bacanal eleitoral”. O termo foi usado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, para nomear a situação.
Matéria de João Domingos, em O Estado de S. Paulo de 30 de junho passado, dá números ao problema. Doze candidatos a governador apoiados pelo candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB) são de partidos aliados ao PT ou ao PSB. Nove candidatos a governador apoiados pelo presidenciável Eduardo Campos (PSB) são de partidos aliados ao PT ou ao PSDB. Dois candidatos apoiados pela presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, são de partidos aliados ao PSDB ou PSB.


Como dizia Chico Buarque, não existe pecado no lado de baixo do equador. As alianças aqui se multiplicam em torno de interesses paroquiais sem que se tenha o pudor de explicar as razões. No Brasil, a vocação para colocar tais interesses acima dos nacionais vem de longe. Na República Velha, os partidos regionais já dominavam a cena, predominando no palco até meados do século XX.
No Brasil de hoje, a bacanal eleitoral é assegurada pela Constituição, que derrubou em 2006 a verticalização partidária adotada pelo TSE e pelo Supremo Tribunal Federal. O Congresso legitimou tal opção por conta da prevalência dos interesses eleitorais frente aos interesses ideológicos, partidários e programáticos.
A mensagem passada para a população mais educada é péssima e alimenta o descrédito com relação à política e aos políticos. Aos que não se importam, fica a lembrança do que teria dito Platão: “Aqueles que não gostam da política serão governados por aqueles que gostam”. E não necessariamente por aqueles que deveriam estar no comando.

Murillo de Aragão é cientista político.

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