Estudo diz que maioria dos
brasileiros está infeliz no sexo
"O sexo no Brasil não é satisfatório
para uma boa porcentagem da população", de acordo com Carmita Abdo,
psiquiatra e coordenadora do ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade) do
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).
A informação é confirmada pela pesquisa Durex Global Sex Survey, conduzida pela
fabricante de preservativos com 1.004 brasileiros de forma anônima. O estudo
mostrou que 51% dos homens e 56% das mulheres estão insatisfeitos com a vida
sexual. Por que o sexo anda tão ruim? Além de Carmita, a ginecologista Caroline
Nakano Vitorino, especialista em Sexualidade Humana pela Faculdade de Medicina
da USP, e o psicólogo Oswaldo Rodrigues Júnior, diretor do Inpasex (Instituto
Paulista de Sexualidade), ajudaram o UOL Comportamento a levantar as principais
razões dessa insatisfação. Por Yannik D'Elboux, do UOL, no Rio de Janeiro Leh
Latte/UOL
FAMA DO
BRASILEIRO: a comparação com a ideia que o mundo tem do brasileiro, visto como
bem resolvido e bom de cama, interfere na vida sexual. Nem sempre tudo o que
costumam dizer por aí condiz com o que acontece entre quatro paredes. "A
pessoa começa a ficar insatisfeita, pois a percepção que o mundo tem da sua
sexualidade não corresponde ao que ela efetivamente faz", explica a
psiquiatra Carmita Abdo. Ater-se a um padrão inexistente só atrapalha, levando
a estabelecer expectativas às vezes altas demais .
FALTA DE
SINTONIA DO CASAL: enquanto um está com vontade de transar pela manhã, o outro
prefere esperar a noite chegar. Duas relações sexuais por semana satisfaz um,
porém é demais para o outro. A inadequação entre os casais, de desejo,
frequência e práticas, é uma das principais causas da insatisfação.
"Existem dificuldades em lidar com as diferenças do outro e com a frustração
de não ter o que se gosta", afirma o psicólogo Oswaldo Rodrigues, diretor
do Inpasex
MITOS, TABUS E PRECONCEITOS: tamanho do pênis, orgasmos múltiplos e quantidade de relações sexuais ainda são preocupações dos brasileiros. Mitos relacionados a esses aspectos, além de muitos tabus e preconceitos, prejudicam a qualidade da vida sexual. Na pesquisa promovida pela Durex, apenas 7% declararam não ter tabus sobre sexo. "Somos uma sociedade que se formou em uma estrutura patriarcal, machista e com conceitos religiosos rígidos", diz a ginecologista e sexóloga Caroline Nakano Vitorino
DIFICULDADES
SEXUAIS: segundo a psiquiatra da USP Carmita Abdo, cerca de 25% dos homens
sofrem de ejaculação precoce. Os problemas de ereção atingem de 30% a 45% da
população masculina, dependendo da faixa etária. Entre as mulheres, um terço
nunca chegou ao orgasmo e muitas reclamam da falta de desejo sexual. Essas
relevantes dificuldades sexuais impedem o exercício pleno da sexualidade.
"Existem tratamentos para todos esses problemas, que poderiam deixar de
ser mais um fator de insatisfação", afirma Carmita .
VERGONHA
DE BUSCAR TRATAMENTO: apesar dos altos índices de dificuldade sexual no Brasil,
poucos procuram ajuda. O estudo da Durex mostrou que mais de 60% dos
entrevistados têm dificuldade em admitir um problema sexual. Os pacientes com
essas queixas costumam demorar de dois a cinco anos para buscar tratamento.
Muitos acabam mascarando a situação. "O brasileiro usa desculpas sociais
que são compreendidas como justificativas verdadeiras pelos outros. Um exemplo
é o trabalho ou o estresse", observa o psicólogo Oswaldo Rodrigues.
PROBLEMAS
DE SAÚDE: uma vida sexual satisfatória depende, também, do estado geral da
saúde física e emocional do indivíduo. Problemas como diabetes, alterações
hormonais e obesidade influenciam na capacidade e disposição para o sexo.
"Ansiedade, depressão, hipertensão e problemas cardiovasculares são apenas
algumas das doenças que ocorrem ao longo da vida da pessoa e interferem na vida
sexual", acrescenta a psiquiatra Carmita Abdo .
RELACIONAMENTOS
SUPERFICIAIS: "As pessoas querem se relacionar sem se envolver, sem ter
frustrações. Logo, têm relacionamentos fugazes e superficiais, que também geram
relações sexuais fugazes, superficiais, virtuais, descomprometidas e,
consequentemente, insatisfatórias", diz a ginecologista e sexóloga
Caroline Nakano Vitorino. Na ânsia de encontrar sexo rápido, muitas vezes, as
pessoas não desenvolvem a empatia e intimidade necessárias para um bom
entrosamento na cama e fora dela .
DESAJUSTE
NAS PRELIMINARES: na pesquisa da Durex, 40% dos entrevistados disseram dedicar
de seis a 15 minutos para as preliminares. De modo geral, as preliminares
sexuais costumam ser mais importantes para as mulheres. O problema não está na
quantidade de tempo, mas no ajuste capaz de satisfazer os dois, para que a
prática não seja rápida demais para a mulher nem entediante para o homem.
"A qualidade da relação sexual também depende das preliminares sexuais,
pois elas preparam para o orgasmo", afirma o psciólogo especializado em
sexualidade Oswaldo Rodrigues .
REPERTÓRIO
SEXUAL POBRE: o brasileiro está precisando variar um pouco mais o cardápio para
melhorar sua satisfação sexual. Para a médica Caroline Vitorino, a falta de
informações úteis, aliada aos mitos e tabus, fazem com que as pessoas adotem
práticas sexuais repetidas no cotidiano, que não valorizam o relacionamento.
"Criatividade, senso de humor, felicidade e iniciativa são bons temperos
para incrementar esse repertório", fale a ginecologista e sexóloga.
COMUNICAÇÃO
NA HORA ERRADA: não basta falar com o parceiro sobre as necessidades sexuais, é
preciso escolher o momento certo. Segundo a psiquiatra Carmita Abdo, muitos só
lembram dos problemas na hora do sexo, quando falar sobre isso, geralmente,
piora ainda mais a situação. "A comunicação sobre o sexo poderia e deveria
ir além do momento do ato", orienta. As mulheres costumam ter mais
dificuldade do que os homens em expressar seus desejos.
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