Todo mundo escorregando no petróleo


“Não tive intenção de enganar Dilma” (Cerveró)
O ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, afirmou, ontem, que as cláusulas omitidas no resumo para aquisição da refinaria de Pasadena (EUA), em 2006, não eram importantes, rebatendo declaração da presidente Dilma Rousseff de que o parecer era “falho” por causa dessa omissão. Cerveró disse ainda que não teve “intenção de enganar” a presidente Dilma, que na época presidia o Conselho de Administração da Petrobras e deu o aval para o negócio.
Em depoimento na Câmara dos Deputados, Cerveró defendeu o negócio e explicou que fazia parte de um plano da Petrobras para aumentar o refino no mercado internacional –mesma explicação dada pela atual presidente da Petrobras, Graça Foster, em depoimento anteontem no Senado.
No mês passado, Dilma criticou o resumo feito por Cerveró por omitir, na transação para compra de metade da refinaria de Pasadena com a empresa Astra Oil, a existência das cláusulas “Put Option” (que estabelecia que, em caso de desacordo entre os sócios, uma parte comprasse a outra) e “Marlim” (que dava à outra sócia uma garantia de rentabilidade mínima de 6,9% ao ano). Cerveró também foi criticado, anteontem, por Graça Foster por omitir essas cláusulas no resumo, mas hoje rebateu as críticas. “Não houve nenhuma intenção de enganar ninguém”, disse o ex-diretor.
“A cláusula de saída, ‘Put Option’, é uma prática mais do que comum. Em qualquer sociedade, principalmente aquelas em que a proporção é de 50% para 50%, É uma defesa tanto para a Astra como para nós, são pagamentos para evitar que o sócio imponha condições prejudiciais. É uma cláusula comum. A Petrobras tem centenas de participações, sempre tem cláusula de saída. É isso que é a cláusula de ‘Put Option’, nada mais do que isso, não tem nenhuma relevância, não é um aspecto importante”, afirmou Cerveró. E, logo em seguida, afirmou que a cláusula ‘Marlim’ era uma “proteção negociada com o sócio” para permitir que a Petrobras processasse óleo pesado na refinaria, que era a intenção da empresa no negócio, mas que sofria resistência da Astra Oil. Por isso, estabeleceu uma diferença de 3,5 dólares entre o óleo pesado, que tem menos valor, e o óleo leve, que gera mais lucro. “Não é uma garantia adicional de rentabilidade para o sócio”, afirmou. “Essas cláusulas não têm representatividade no negócio”, disse.
PRÉ-SAL
Segundo Cerveró, a descoberta do pré-sal tornou a refinaria de Pasadena desinteressante para a Petrobras, pois a empresa passou a priorizar fazer grandes investimentos para a exploração em águas profundas no Brasil. Na época, porém, o negócio foi atrativo e até mais barato do que a média de mercado, disse. “A compra da refinaria de Pasadena ou de qualquer outra refinaria no mercado americano estava perfeitamente enquadrada dentro do planejamento estratégico de agregação de valor do nosso petróleo pesado”.
O ex-diretor afirmou que os investimentos em refinarias no exterior fizeram parte do planejamento estratégico da Petrobras da gestão anterior, na época do governo FHC (PSDB), mas que foram ratificados na gestão Lula. “Tenho essa satisfação e esse orgulho de ter dirigido a companhia na área internacional, seguindo uma orientação estratégica e uma orientação do presidente Lula de internacionalização da Petrobras”, disse Cerveró. Anteontem, Graça Foster afirmou que Pasadena deu prejuízo de US$ 530 milhões à Petrobras e disse que a aquisição “não foi um bom negócio”.

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