Tá no Josias


Governo faz ofensiva para elevar o apoio à Copa

Pesquisas realizadas pelo Datafolha demonstram que o apoio à realização da Copa no Brasil é declinante. Em novembro de 2008, 79% dos brasileiros aplaudiam a escolha do país como sede do evento. Em junho do ano passado, mês em que a juventude foi às ruas, o índice caiu para 65%. Neste mês de abril, a aprovação minguou para 48%.
Esse pano de fundo adverso produziu uma situação crivada de ironia: presidente do país do futebol, pentacampeão mundial, Dilma Rousseff viu-se compelida a deflagar uma ofensiva governamental para tentar elevar o apoio dos amantes do esporte à Copa, um dos eventos mais populares do planeta. Deve-se a preocupação ao fato de que, por mal dos pecados, a Copa ocorre no ano da sucessão presidencial.
Assessor direto de Dilma, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) tornou-se uma espécie de mercador da Copa. Percorre as 12 cidades que sediarão os jogos. Distribui uma cartilha intitulada ‘o que o governo já ganhou com a Copa’ e participa de debates com representantes de movimentos sociais e entidades sindicais.
Gilberto Carvalho iniciou o périplo por Manaus, em 2 de abril. Já esteve em Belo Horizonte e Porto Alege. E ainda participará de encontros em Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Natal, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
De acordo com reportagem do jornal Valor Econômico, a ofensiva do governo ganhará um formato publicitário. A partir de 27 de abril, a 46 dias do início da Copa, vai ao ar uma campanha concebida por três agências: Giovanni, Nova SB e Propeg. Só falta Dilma aprovar as peças.
A campanha começou a ser discutida nas pegadas dos protestos de junho de 2013. Deveria ter sido veiculada no último mês de janeiro. Mas seu conteúdo foi questionado por integrantes do governo e por pessoas vinculadas à campanha reeleitoral de Dilma, sobretudo o marqueteiro João Santana.
Vencidas as resistências, o esforço publicitário do governo vai atacar dois alvos. Além de açular a alma ufanista de torcedores que sonham com o hexacampeonato, tentará justificar as obras e os gastos associados à Copa. Foi a aversão a essas despesas que levou os manifestantes de junho a erguerem cartazes exigindo que o “padrão Fifa”, presente em 12 estádios, fosse levado também a ambientes como escolas e hospitais públicos.
Em entrevista ao Valor, o ministro Aldo Rebelo (Esportes) fez algo parecido com uma autocrítica. Disse que o governo deixou a Copa “indefesa”. Para ele, “havia uma campanha contra a Copa e não houve uma contracampanha. Ficou claro que organizá-la bem não era suficiente”. Agora, afirmou Aldo, “há um certo esforço, que talvez neutralize essa ofensiva. […] Mas a melhor defesa da Copa será a própria Copa.”
As obras da Copa foram orçadas em R$ 25,6 bilhões. Apenas R$ 4,4 bilhões vêm de fontes privadas. O resto sai de cofres públicos: R$ 8,2 bilhões financiados por BNDES, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Banco do Nordeste; R$ 5,6 bilhões do Orçamento da União; e R$ 7,2 bilhões de Estados e municípios.
Um dos objetivos centrais da campanha do governo é o de solidificar a tese segundo a qual o orçamento da Copa não é feito só de estádios e deixará um “legado”. Aldo Rebelo recorda que, com a Copa ou sem ela, algumas obras teriam de ser realizadas –mobilidade urbana e reformas de aeroportos, por exemplo.
Numa tentativa de responder à gritaria do asfalto, a cartilha elaborada pela pasta de Gilberto Carvalho anota que desde 2010, ano em que as obras da Copa ganharam impulso, o governo investiu R$ 825,3 bilhões em educação e saúde, contra R$ 8 bilhões enterrados nos estádios. Alguém que esteja aguardando há mais de um ano por uma cirurgia do SUS talvez indague: E daí?

Nenhum comentário:

Postar um comentário