Cadê um pra botar o guizo no gato?


Petrobras: banda muda cala sobre a politicagem

Josias de Souza
Nenhum congressista ignora: o dinheiro continua saindo pelo ladrão no orçamento da Petrobras porque os apaniguados dos políticos continuam entrando no orçamento. Diante disso soou espantoso o silêncio da banda muda do Senado durante a inquirição da presidente da Petrobras, Graça Foster, nesta terça-feira. Uma única e solitária voz tratou do tema a sério.
Na sua vez de formular perguntas, Pedro Simon (PMDB-RS) deu nome aos bípedes que frequentam o primeiro escalão da Petrobras por indicação política. Noves fora os já demitidos, citou três diretores apadrinhados por Fernando Collor (PTB-AL) e um diretor patrocinado pela bancada do PT na Câmara.
Mencionou também o ex-parlamentar Sérgio Machado, que preside a subsidiária Transpetro desde 2003 por indicação do presidente do Senado, Renan Calheiros. “Está quase ganhando estabilidade no emprego”, ironizou Simon, antes de descer ao ponto: “É isso o que está atrapalhando a Petrobras.”
Em timbre de decepção, Simon disse que esperava que, ao assumir a presidência da estatal, em 2012, Graça Foster imprimisse “outra linha” à gestão da empresa. Em privado, a presidente da Petrobras é uma crítica mordaz do aparelhamento da estatal. Sob holofotes, porém, respondeu a Simon com desconversa.
“Nós temos técnicos e engenheiros da Casa, tanto atualmente quanto na diretoria anterior. E sempre tivemos um número bastante grande, em outras diretorias no passado, de bons técnicos da companhia. Os nomes que o senhor citou em geral são bons técnicos da nossa Casa.” Simon interveio: “Alguns não são, não.”
Graça não se deu por achada: “Falo da diretoria atual, a diretoria indicada e levada ao Conselho de Administração por mim e, por isso, de minha total responsabilidade.” Ora, qualquer técnico que chega a um posto de mando da estatal carregado nos ombros de um político prestará contas ao padrinho antes de se reportar aos superiores hierárquicos.
Paulo Roberto Costa, o ex-direitor preso da Petrobras, é um exemplo típico dessa tribo. Servidor de carreira da Petrobras, foi alçado à diretoria de Abastecimento graças ao deputado mensaleiro José Janene (PR), ex-líder do PP na Câmara. Lula o chamava de , Paulo Roberto de “Paulinho”. Com a morte de Janene, Paulo Roberto foi assumido por PT e PMDB. A coisa terminou na cadeia.
Líder do PSDB, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) comentou os casos de Paulo Roberto e de Nestor Cerveró, o ex-diretor que Dilma Rousseff acusa de ter elaborado o relatório “falho” que a levou a avalizar a compra da refinaria de Pasadena. Por que não foram demitidos logo que vieram à tona as primeiras irregularidades? Graça não respondeu. “Tinham costas quentes”, disse Aloysio.
O senador tucano referiu-se a um diálogo mantido por Dilma com o vice-presidente Michel Temer. Deu-se na época em que se discutia a reforma ministerial. Na versão vazada para o repórter Lauro Jardim, a presidente negou um ministério extra ao PMDB sob o argumento de que a Transpetro vale mais do que muitos ministérios.
Sem citar Sérgio Machado, o mandachuva da Braspetro, e Renan Calheiros, o padrinho dele, Aloysio Nunes lançou no ar uma incômoda indagação: “Quantos votos rende a Transpetro?” Votos, não rende nenhum. Poder-se-ia dizer que os padrinhos indicam os afilhados por patriotismo. Mas a insistência com que a Petrobras frequenta o noticiário policial indica que a motivação é de outro tipo. Vem daí o fato de o Congresso ter no momento quatro CPIs da Petrobras e nenhuma investigação.

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