PMs dizem "enxugar gelo" ao apreender menores que roubam no centro do Rio
Os menores costumam circular em grupo, quase sempre desarmados, e são protagonistas uma onda de assaltos na área e no entorno da Central do Brasil, em especial na avenida Presidente Vargas, uma das principais vias no coração da cidade.
No local, uma mulher sofreu uma tentativa de assalta no momento em que era entrevistada pela "TV Globo" sobre o clima de insegurança na região, na quarta-feira (9). As imagens provocaram uma reação por parte da Polícia Militar, que reforçou o patrulhamento no centro com mais 50 PMs.
"Quem rouba aqui é menor de idade. Eles sabem que a lei favorece eles, e por isso continuam a cometer esses delitos. Quando a gente leva para a delegacia, eles até riem, debocham, porque sabem que depois de um ou dois dias vão estar de volta às ruas", disse um PM, que pediu para não ter a identidade revelada.
"Até tem policiamento nas ruas, mas a ousadia e a falta de respeito deles é que faz com que a situação fique do jeito que está", disse outro policial militar, que também pediu anonimato.
Um policial civil da DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente), que recebe os menores apreendidos pela prática de delitos na região, disse que muitos dos infratores conduzidos a unidade são reincidentes. "Alguns já passaram umas cinco, seis, até oito vezes por aqui", afirmou o agente. "Tem até alguns que chegam aqui chorando, mas a maioria é dissimulada", completou.
Relatos de vítimas
Segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), são registrados aproximadamente cem roubos a transeunte por mês na região central do Rio. A reportagem do UOL ouviu relatos de pessoas que trabalham ou estudam nos arredores da Central do Brasil --onde estão situadas a sede da 4ª DP, a Secretaria de Estado de Segurança Pública e o CML (Comando Militar do Leste)--, e que já foram vítimas de roubos e assaltos.A maioria afirma que o policiamento na área é insuficiente, e diz esperar que o reforço seja ainda maior e permanente. Nenhuma das pessoas ouvidas pela reportagem registrou o roubo na Polícia Civil. Por conta das frequentes ações de ladrões, colares, celulares e outros acessórios se tornaram itens a serem evitados na região.
A estudante de direito da FND (Faculdade Nacional de Direito) Mariana Landi, 18 anos, contou ter sido assaltada no fim do ano passado quando estava caminhando em direção ao metrô: "Puxaram o meu cordão e eu também já vi várias pessoas sendo assaltadas dessa forma aqui. Hoje em dia eu evito usar [acessórios], coloco o celular, dinheiro dentro da roupa porque, se eles puxarem minha bolsa, pelo menos não levam nada de muito valor".
O policiamento, segundo Mariana, é pontual. "Quando tem algum assalto, às vezes alguém pede e vem uma viatura de Polícia aqui, mas logo depois já vai embora. E os assaltos acontecem até mesmo na frente dos policiais e ninguém faz nada", afirmou.
Para um comerciante que trabalha no terminal rodoviário da Central do Brasil e pediu anonimato, não adianta prender os autores dos roubos porque eles sempre voltam no dia seguinte. "Tem que dar uma atividade pra ocupar eles", opinou.
"Esse policiamento é só porque vocês da imprensa estão aqui", disse uma cobradora de ônibus que também pediu para não se identificar, em referência à presença de equipes de reportagem no local. "Geralmente é muito menor", completou. "[A ocorrência de assaltos] é a coisa mais comum que tem por aqui. Por incrível que pareça, virou um fato normal", declarou ela.
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