Bandidagem "de menor" não é privilégio do Rio

PMs dizem "enxugar gelo" ao apreender menores que roubam no centro do Rio

Policiais militares empregados no patrulhamento de ruas e avenidas do centro do Rio de Janeiro afirmaram ao UOL, nesta quinta-feira (10), que a apreensão de menores suspeitos de roubos e assaltos na região é como "enxugar gelo", já que a maioria é liberada e volta a cometer os mesmos delitos.
Os menores costumam circular em grupo, quase sempre desarmados, e são protagonistas uma onda de assaltos na área e no entorno da Central do Brasil, em especial na avenida Presidente Vargas, uma das principais vias no coração da cidade.
No local, uma mulher sofreu uma tentativa de assalta no momento em que era entrevistada pela "TV Globo" sobre o clima de insegurança na região, na quarta-feira (9). As imagens provocaram uma reação por parte da Polícia Militar, que reforçou o patrulhamento no centro com mais 50 PMs.
Ampliar

Violência no Rio de Janeiro em 2014

10.abr.2014 - Mulher é assaltada na avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, no momento em que dava uma entrevista para a "TV Globo" Reprodução/TV Globo
"Quem rouba aqui é menor de idade. Eles sabem que a lei favorece eles, e por isso continuam a cometer esses delitos. Quando a gente leva para a delegacia, eles até riem, debocham, porque sabem que depois de um ou dois dias vão estar de volta às ruas", disse um PM, que pediu para não ter a identidade revelada.
"Até tem policiamento nas ruas, mas a ousadia e a falta de respeito deles é que faz com que a situação fique do jeito que está", disse outro policial militar, que também pediu anonimato.
Um policial civil da DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente), que recebe os menores apreendidos pela prática de delitos na região, disse que muitos dos infratores conduzidos a unidade são reincidentes. "Alguns já passaram umas cinco, seis, até oito vezes por aqui", afirmou o agente. "Tem até alguns que chegam aqui chorando, mas a maioria é dissimulada", completou.
Ampliar

Violência em bairros turísticos do Ri

A fim de entender a dinâmica do crescimento da criminalidade em bairros turísticos do Rio, a reportagem do UOL visitou as praias de Copacabana e Ipanema, além dos bairros de Santa Teresa e da Lapa, para conversar com moradores, trabalhadores e turistas Leia mais Arte/UOL
De acordo com o policial, os menores que são levados à delegacia "nunca saem pela porta da frente". "Sempre encaminhamos estes jovens ou para a Justiça, ou para os responsáveis. Infelizmente, eles acabam voltando", declarou. "Eles não querem ficar nos abrigos. A maioria quer ficar na rua mesmo. (...) Acho que isso ajuda a explicar por que a situação está como está", finalizou.

Relatos de vítimas

Segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), são registrados aproximadamente cem roubos a transeunte por mês na região central do Rio. A reportagem do UOL ouviu relatos de pessoas que trabalham ou estudam nos arredores da Central do Brasil --onde estão situadas a sede da 4ª DP, a Secretaria de Estado de Segurança Pública e o CML (Comando Militar do Leste)--, e que já foram vítimas de roubos e assaltos.
A maioria afirma que o policiamento na área é insuficiente, e diz esperar que o reforço seja ainda maior e permanente. Nenhuma das pessoas ouvidas pela reportagem registrou o roubo na Polícia Civil. Por conta das frequentes ações de ladrões, colares, celulares e outros acessórios se tornaram itens a serem evitados na região.

A estudante de direito da FND (Faculdade Nacional de Direito) Mariana Landi, 18 anos, contou ter sido assaltada no fim do ano passado quando estava caminhando em direção ao metrô: "Puxaram o meu cordão e eu também já vi várias pessoas sendo assaltadas dessa forma aqui. Hoje em dia eu evito usar [acessórios], coloco o celular, dinheiro dentro da roupa porque, se eles puxarem minha bolsa, pelo menos não levam nada de muito valor".
O policiamento, segundo Mariana, é pontual. "Quando tem algum assalto, às vezes alguém pede e vem uma viatura de Polícia aqui, mas logo depois já vai embora. E os assaltos acontecem até mesmo na frente dos policiais e ninguém faz nada", afirmou.
Para um comerciante que trabalha no terminal rodoviário da Central do Brasil e pediu anonimato, não adianta prender os autores dos roubos porque eles sempre voltam no dia seguinte. "Tem que dar uma atividade pra ocupar eles", opinou.
"Esse policiamento é só porque vocês da imprensa estão aqui", disse uma cobradora de ônibus que também pediu para não se identificar, em referência à presença de equipes de reportagem no local. "Geralmente é muito menor", completou. "[A ocorrência de assaltos] é a coisa mais comum que tem por aqui. Por incrível que pareça, virou um fato normal", declarou ela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário