A que ponto chegamos


TCU: Gim Argello desiste de desafiar bom senso

Duas das coisas mais perigosas do mundo são a imprensa livre e o hálito da multidão. Juntas, elas ressuscitam o ponto de exclamação. Apoiado por Dilma Rousseff e empurrado por Renan Calheiros, o senador Gim Argello tramou virar ministro do TCU. Como o brasileiro se espanta cada vez menor, Gim imaginou que o absurdo seria recebido com uma doce, persuasiva, admirável naturalidade. A imprensa entrou com os holofotes, iluminando-lhe o prontuário. Os servidores do TCU organizaram a multidão.
Esquecendo-se de maneirar, Renan quis que o Senado engolisse a indicação de Gim Argello sem mastigar. Por 25 votos a 24, os senadores regurgitaram a manobra. Coisa inusual. Noutros tempos, se servissem aos senadores sopa de barata, poucos fariam a concessão de uma surpresa. É barata? Ótimo. É Gim Argello para o TCU? Pois que seja, e com farofa.
Ressuscitado o ponto de exclamação, a oposição providenciou um técnico para disputar votos com o preferido de Dilma e Renan. E Gim Argello, num rasgo de compostura decidiu abdicar da pretensão que jamais deveria ter cultivado. Repetindo: Gim Argello desistiu de virar ministro do TCU. Teve um ataque de bom senso. Ou seja: os refletores e o hálito forte deixaram o senador completamente… fora de si.

Tribunal de Contas ameaça não empossar Gim

Folha
O presidente do Tribunal de Contas da União, João Augusto Ribeiro Nardes, divulgou uma nota inusitada nesta quarta-feira. Não faz menção ao senador Gim Argello (PTB-DF), candidato a uma vaga de ministro do TCU. Mas ameaça claramente negar-lhe posse se o nome dele vier a ser aprovado pelo Congresso Nacional. O texto tem dois parágrafos.
Num, Nardes conta que os ministros do TCU se reuniram. E sentiram a necessidade de recordar que o processo de escolha de novos membros do tribunal deve observar os “requisitos constitucionais previstos no artigo 73 da Carta Constitucional brasileira.”
Noutro, ele esmiúça as condições impostas pelo texto constitucional e deixa no ar a hipótese de não entronizar Gim Argello no cargo. “Ao presidente do TCU, responsável pela posse, compete, ouvido o plenário, avaliar todos os requisitos exigíveis, entre eles idoneidade moral, reputação ilibada, notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública.”
Além de não exibir indícios de saber notório, Gim Argello é freguês de caderneta do Judiciário. Responde a seis inquéritos no STF, um deles com denúncia já formalizada pela Procuradoria Geral da República. Carrega na biografia, de resto, uma condenação judicial de segunda instância.
A nota do TCU veio à luz um dia depois de fracassar a tentativa do presidente do Senado, Renan Calheiros, de votar a indicação de Gim Argello na velocidade de um raio. O requerimento de urgência foi refugado pelo plenário do Senado em votação apertada: 25 a 24, com duas abstenções.

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