D. Fernando, de Crato, já foi convocado pelo Vaticano para
dar explicações sobre acusação de irregularidades em venda de imóveis.
Um bispo no Brasil está na mira do papa Francisco, que vem
marcando seu pontificado com a luta contra a corrupção, a reforma da Cúria e a
exigência de posturas exemplares por parte dos religiosos. O bispo da diocese
de Crato, d. Fernando Panico, de 67 anos, entrou no radar do chefe da Igreja em
Roma depois de inquérito aberto pela Polícia Civil em sua cidade por causa de
uma polêmica em torno da venda de casas da diocese e até por acusações de
estelionato.
Papa incentiva a transparência das finanças do Vaticano
Fontes no Vaticano confirmaram ao Estado que Francisco ainda
não tomou uma decisão sobre o que será feito e espera a conclusão das
investigações da Justiça. Mas Jorge Bergoglio não gostou do caso.
O número de acusações contra d. Fernando Panico não é
pequeno. Mas, acima de tudo, fontes no Vaticano revelam que é justamente a
atuação de uma diocese como negociadora de imóveis que desagradou ao papa.
As investigações foram abertas depois que o bispo foi
acusado de ter continuado a cobrar aluguéis das casas de prioridade da diocese,
mesmo depois de elas terem sido vendidas. Outra acusação era de que a venda dos
imóveis ocorreu sem que os moradores tivessem a opção de compra. O bispo acabou
sendo convocado para depor.
O caso chegou até Roma e, em outubro, Panico esteve reunido
em duas ocasiões com o papa no Vaticano. Oficialmente, as audiências tinham
como meta debater o processo de reabilitação canônica do padre Cícero (1844-1934)
e sobre o processo de beatificação de Benigna Cardoso da Silva, mártir da
castidade (1928-1941).
Mas um dos temas centrais da conversa foi justamente a
cobrança do papa para que Panico desse explicações sobre as denúncias de
estelionato e formação de quadrilha. Um primeiro encontro ocorreu com outros
participantes, no dia 9 de outubro. Cinco dias depois, o bispo voltou a ser
convocado, desta vez para uma audiência a portas fechadas.
D. Fernando, um italiano naturalizado brasileiro, ordenou-se
padre em 1971, em Roma. Chegou ao Brasil em 1974 e está à frente da diocese do
Crato desde maio de 2001.
Exemplos. Francisco deixou claro que não iria tolerar esse
tipo de escândalo e tem coletado uma série de casos que, em sua avaliação,
poderiam prejudicar a imagem da Igreja. Há um mês, o Vaticano suspendeu um
bispo alemão por seus gastos considerados excessivos. O punido foi o bispo de
Limburg, Franz-Peter Tebartz-van Elst, depois que gastou € 31 milhões (R$ 93
milhões) para renovar sua residência oficial.
O papa, desde o primeiro dia de seu mandato, havia deixado
claro que queria uma "Igreja pobre para os pobres" e que a função dos
religiosos era servir. Elst acabou se transformando em um primeiro teste para o
argentino. O caso ainda revela que o pontífice está disposto a punir esse tipo
de comportamento, enquanto dá demonstrações de que não vai perseguir bispos por
declarações sobre a doutrina.
Em poucos meses, Francisco deu diversas demonstrações de que
seu estilo é o de recusar a ostentação e ordenou ao clero que siga o mesmo
caminho da simplicidade. Ele criticou os carros usados por padres, optou por
não viver no Palácio Apostólico e condenou gastos elevados. Além disso,
instaurou regras de transparência das finanças do Vaticano e ordenou uma
varredura geral nas contas da Santa Sé.
Fonte: Estadão
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