Opinião

O esverdeamento de Chico Mendes, por Carlos Tautz

Há 25 anos, exatamente no dia 22 de dezembro, era assassinado Chico Mendes, cuja imagem ficou associada a um conservacionismo da natureza. Em verdade, Chico e seu grupo de seringueiros tinham uma proposta bem diferente da mera preservação ambiental no Acre.
Socialistas, eles defendiam a posse coletiva da terra – conservando a floresta para ali continuar a praticar o extrativismo - e foi exatamente por isso assassinado por latifundiários. Afinal, nada mais perigoso para um sistema de propriedade extremamente concentrada do que uma gestão coletiva da terra – e, ainda por cima, sob controle de trabalhadores.
O esverdeamento e despolitização da imagem de Chico de alguma forma serviu a grupos políticos locais. Os principais são os irmãos Tião e Jorge Viana, que se revezam nos cargos de governador e senador pelo PT do Acre. O outro é o de Marina Silva, agora no PSB de Eduardo Campos, que vem tentando a duas eleições presidenciais viabilizar-se como candidata ao principal posto da República.

Chico Mendes

Nenhum dos dois grupos, quando pôde, empenhou-se muito em levantar as verdadeiras bandeiras de Chico e viabilizar a gestão coletiva das florestas do Acre para explorá-las de forma justa, equitativa e equilibrada.
Em verdade, o estado tem ido na direção contrária. O Acre está servindo como um enorme laboratório internacional de implementação da chamada “economia verde”, ou capitalismo verde, como apontam seus críticos.
Junto com os governos dos estados de Chiapas, no México, e Califórnia, nos Estados Unidos, o governo do Acre tenta viabilizar formas de tirar proveito da crise climática global e mercantilizar as relações sociais em torno da posse da terra.
Essa articulação internacional está sendo organizada por Roberto Rodrigues, ex-Ministro da Agricultura no primeiro governo Lula.
Não é gratuita a escolha do Acre para ser o vértice brasileiro da triangulação.
Além de a população do Estado ainda manter quase 50% da floresta intocada (o que garante um enorme estoque de natureza em mercados de emissões de carbono, de material genético e de várias outras dimensões da vida) é justamente a imagem “ambiental” de Chico Mendes que está sendo subliminarmente usada para dar viabilidade política a esse esquema de neoexploração da natureza em larguíssima escala.
Passando uma legislação infranacional no Acre em combinação com outros entes infranacionais (Chiapas e Califórnia), os criadores do esquema neoexplorador tentam driblar o travamento em que se encontram as negociações internacionais sobre o clima.
E dão mais um enorme passo para confirmar o Acre, e em última instância também o Brasil, como mero provedor de matéria-prima. Nem que para isso falseiem a imagem de Chico Mendes.

Carlos Tautz é jornalista e coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência.

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