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Lampião não era baitola


A recente polêmica sobre biografias reavivou na memória a proibição judicial do livro “Lampião, o Mata Sete”, do sergipano Pedro de Morais. O recolhimento da obra foi determinado em dezembro de 2011 a pedido da família do cangaceiro (aqui retratado ao lado de Maria Bonita, num quadro de Portinari). O livro sustenta que Lampião era gay e sua mulher, adúltera.

De lá pra cá, o autor enfrentou não só a ira dos herdeiros do cabra-macho, sim, senhor. Morais foi contestado por dezenas de estudiosos do cangaço, e um deles, Archimedes Marques, também sergipano, escreveu um livro de 552 páginas (“Lampião contra o Mata Sete”) para desmontar a tese do seu conterrâneo.

Além disso, uma das fontes citadas pelo livro, o antropólogo baiano Luiz Mott, grande defensor da causa gay, avisa que não foi ele quem tirou Lampião do armário:

— Apenas reproduzi suspeitas de outras pessoas sobre certos hábitos dele: seu exagero com o uso de perfume, quantidades de medalhas nos chapéus, tantos anéis nos dedos, fato de costurar e bordar. Tudo isso o afasta do estereótipo do macho nordestino.

Já o historiador pernambucano Frederico Pernambucano de Mello, talvez o maior estudioso do cangaço, afasta qualquer possibilidade de Lampião ter sido gay e Maria Bonita, adúltera. Ele é autor, entre outros, do livro “Estrelas de couro, a estética do cangaço”. Revela na obra que Lampião tinha um “senso estético à flor da pele” e que costurava e bordava muito bem.

— Talvez até eu possa ser um pouco responsabilizado por alguma interpretação errada sobre Lampião, por ter revelado que ele costurava e bordava. Mas isso era muito comum no sertão.

Pernambucano de Mello considera um erro julgar o passado tendo como base características e categorias do presente.

— Ainda antes de ser cangaceiro, Lampião foi tropeiro. Ele conduzia tropas de burro. Se sua braguilha soltasse no meio do sertão, ou ele mesmo pregava o botão ou ia ficar com a bilola de fora. No passado, costurar era uma necessidade na ausência de quem o fizesse.

Aliás, tem uma lenda que São Paulo, o santo padroeiro de Frei Paulo, nunca permitiu que o cangaceiro entrasse na cidade sergipana. Toda vez que Lampião tentava era acometido de forte, desculpe a palavra, caganeira.

Mas aí é outra história...

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