Cadê o editor?
Por muito tempo o leitor de jornais e da Internet vem lamentando (e
continuará a fazê-lo) o fim dos revisores: tem acessoria, assesso,
viajens, beserros, cinceridade, concerteza, gente mau-humorada, há
palavras repetidas, há frases mais sem sentido que discurso de
autoridade.
Os consumidores de informação deveriam, também, reclamar da ausência dos
editores - aqueles profissionais mais experientes, com visão mais ampla
dos fatos, mais capazes de organizar o noticiário. Do jeito que a coisa
vai, o jantar do representante de uma marca francesa que pretende abrir
uma loja no Brasil ganha tanto espaço quanto uma notícia efetivamente
importante. E as fábricas de papéis de alguns empresários, que os
tornaram ricos sem produzir rigorosamente nada, entram no noticiário
como se efetivamente fossem empresas em condições de captar corretamente
o suado dinheiro dos pequenos investidores.
Um bom editor, por exemplo, é capaz de omitir notícias cujo objetivo
seja apenas o de atingir uma reputação ou criar uma fofoca. Este
colunista tinha como norma, por exemplo, ignorar ligações
extraconjugais, exceto quando tivessem importância política. É uma
decisão difícil, muitas vezes; mas cabe ao jornalista, usando sua
experiência, tomá-la e ser capaz de defendê-la. Há histórias ótimas, de
belas senhoras entrando em palácios juntamente com a equipe de limpeza,
devidamente uniformizadas; ou de um casal famoso que, após descoberta a
infidelidade do marido, foi chamado por pessoa influente e aconselhado a
esquecer as mágoas ao menos enquanto uma briga entre ambos pudesse
prejudicar o grupo.
É ocultar informações? Não: qualquer veículo recebe uma quantidade de
informações gigantesca, muito maior que a que pode divulgar. Opta por
algumas e descarta as demais. Informações que servem apenas para
prejudicar pessoas ou gerar fofocas podem perfeitamente ser incluídas na
lista das descartadas.
Mas, se o editor comanda o que será publicado, quem comanda o editor?
Simples: seu público. Se um veículo concorrente publica notícias que o
editor desprezou, e o público o aprova, tende a trocar um por outro. E o
editor cai.
Carlos Brickman
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