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ENTREVISTA DA SEMANA - 23 anos depois, Chagas Neto diz que grupos uniram forças para acabar com Olavo Pires

“Não posso provar nada, mas acabaram com ele em vida para, depois, matá-lo”

Por Carlos Araújo


A partir da esquerda em pé, o deputado federal José Viana, o senador Ronaldo Aragão e os deputados Francisco Sales e Canuto. Chagas Neto no momento em que assina a Constituição de 1988

Político nato, empresário do setor da construção civil e atual presidente do Sinduscon-RO (Sindicato da Indústria da Construção Civil de Rondônia), o empresário e ex-deputado federal Chagas Neto, nestes 25 anos da Constituição Federal de 1988, da qual é signatário, afirma com convicção que o senador Olavo Pires, assassinado a tiros de metralhadoras em frente a própria empresa, em 16 de outubro de 1990, não foi vítima do tráfico de drogas.
“Ele (Olavo) fez muitos inimigos. Eram grupos de vários segmentos - não devo nominar, porque nunca restou comprovado e não tenho certeza - mas ele criou isso e esses grupos se uniram para derrotá-lo em vida. Não posso provar nada, mas acabaram com ele em vida para depois matá-lo”, afirma, numa clara alusão à campanha realizada pelos adversários políticos que impingiam ao senador o rótulo de narcotraficante.
O assunto foi levantado pelo jornalista Carlos Araújo, na Entrevista da Semana, sua coluna publicada semanalmente com exclusividade pelo www.tudorondonia.com.br, por ocasião da passagem do dia 16 de outubro, quando completaram 23 anos do assassinato do então senador e virtual governador de Rondônia. O ex-deputado federal Chagas Neto, que no ano de 1990 concorreu ao Senado na chapa majoritária tendo Olavo como candidato a governador, disse que conviveu por seis meses com Pires, inclusive, dormindo, no mesmo quarto, e que pode afirmar com convicção que o então candidato ao governo do Estado não tinha ligação nenhuma com o narcotráfico.

Na preparação da área para implantar o bairro Ulysses Guimarães, em 1988, Chagas Neto (de bigode, com camisa listrada), com o então vereador Valdemar Marinho (e), o engenheiro Madson Martins

Natural de Sobral (CE), aos 66 anos, o empresário volta ao cenário político de Rondônia e fala sobre os principais acontecimentos que protagonizou, teve participação decisiva ou foi testemunha ocular. Com uma visão futurista e, também, procurando deixar seu nome marcado no então novo estado que estava para nascer, Chagas Neto, deu uma enorme contribuição à expansão urbana da Capital, no tempo em que era politicamente correto e muito simpático vender moradia popular.

Através da iniciativa desse empresário que, desde então, tem ativa participação na vida político partidário ou eleitoral no Estado, a capital de Rondônia experimentou grande desenvolvimento logo após ser emancipado político e administrativamente de Brasília. “Por um tempo, me sentir injustiçado por não ter sido eleito ao Senado em 1990, mas passado mais de 20 anos, hoje compreendo a conjuntura de então”, confessa com ar de tranqüilidade.

Nesta entrevista de mais de uma hora ao jornalista Carlos Araújo, Chagas Neto fala sobre desbravamento de Rondônia, traição política, os avanços conquistados pela população, dos ciclos econômicos e do momento atual.

Vamos à entrevista:

Tudorondônia - Quem é Chagas Neto?

Chagas Neto - Nasci em Sobral (CE), no dia 26 de abril de 1947. Vivi no Ceará até os 33 anos, sendo 23 anos em Sobral e 10 em Fortaleza. Vim para Rondônia em abril de 1980 para trabalhar no ramo da construção Civil, me apaixonei por Rondônia e fiz daqui minha segunda terra natal.

Tudorondônia - O senhor foi um dos grandes responsáveis pela expansão urbana do município de Porto Velho. Como isso se deu?

Chagas Neto - Vim para Rondônia com o intuito de participar da licitação para construção do conjunto Santo Antônio, onde foram construídas 500 unidades habitacionais, financiadas pela Caixa Econômica Federal, com contrapartida do governo Estadual, que na época tinha à frente o coronel Jorge Teixeira, que promoveu também a construção do conjunto Marechal Rondon, com contratação da empresa da qual sou sócio com meu irmão.

Tudorondônia - Enquanto deputado federal, o senhor também promoveu a construção de casas populares, como foi feito esse trabalho?

Chagas Neto – O principal trabalho se deu no bairro Ulisses Guimarães, criado em 1988 por iniciativa política minha. Foi um trabalho árduo, quando o então presidente José Sarney, através da Secretaria de Ação Social, fez a doação de valores para a construção dessas unidades. Eu adquiri a área, através da nossa fundação, a Fundação Chagas Neto, presidida pela minha falecida esposa, Bené Chagas, doamos a área e construímos, inicialmente em regime de mutirão, cujo modelo não deu certo. Mas foram construídas 2.300 casas de madeira, todas com infra-estrutura de energia, ruas encascalhadas e água.

Tudorondônia - O senhor tinha consciência naquele momento de que estava contribuindo para a expansão urbana de Porto Velho ou queria apenas prestar um assistencialismo com objetivos eleitoreiros?

Chagas Neto – Tinha a exata noção da contribuição que estava dando a cidade. Antes do Ulisses eu já havia trabalhado na construção de mais de 10 mil unidades habitacionais. Só em volta do bairro Quatro de Janeiro temos seis ou sete conjuntos construídos por nós. Na região Sul, temos outros seis conjuntos: o Mamoré e Guaporé, o Rio Candeias, o Chagas Neto 1 e 2 e o Odacir Soares 1 e 2.

Tudorondônia - O senhor conseguiu chegar à Câmara Federal num momento histórico para o Brasil, quando a Nação se mobilizava para escrever uma nova Carta Magna, como avalia sua contribuição para a elaboração dessa que viria a ser promulgada pelo timoneiro Ulysses Guimarães, como a Constituição Cidadã?

Chagas Neto – Fui eleito deputado federal em 1986, sendo o terceiro mais votado do Estado.  Tive, então, a honra de ser um dos signatários da carta magna do país, promulgada pelo grande Ulysses Guimarães em 5 de outubro de 1988.

Tudorondônia - Mas, no seu mandato, o senhor não se licenciou para assumir a Secretaria de Obras em Rondônia?

Chagas Neto – Sim, estive à frente da pasta por nove meses, mas, quando ainda não havia iniciado o trabalho constituinte. Na época, se formulava a maneira de se conduzir o processo da instalação da constituinte. Logo que os trabalhos tiveram início, eu deixei a Seosp e voltei a Câmara Federal.

Tudorondônia - Saiu da Secretaria de Obras porque tinha vontade de participar da elaboração da constituinte ou por que teve alguma desavença política como secretário?

Chagas Neto – Não, não houve desavença com ninguém, tanto que, ao sair do cargo, indiquei o meu sucessor, que era meu adjunto, o doutor Madson Martins. Saí porque tinha como meta participar ativamente do processo de consolidação de nossa nova carta magna.

Tudorondônia - Qual avaliação que faz hoje da Constituição Cidadã?

Chagas Neto – Acho que ela foi um avanço enorme e mudou o país. É uma carta voltada para o lado social. Mudou a face do Brasil. Se pesquisarmos o que era o Brasil antes de 1988 e o que é hoje, observaremos que houve grandes mudanças, algumas substanciais, não apenas devido a nova Constituição, mas com grande contribuição dela, sobretudo, pelas suas cláusulas pétreas, que formatou e consolidou o modelo republicano democrático que vivemos hoje.

Tudorondônia - Na eleição de 1986, além do senhor, foi eleito o então ex-vereador de Rolim de Moura, Expedido Júnior, que teve votos cancelados e perdeu o cargo para entrar o deputado Arnaldo Martins. Depois houve sua saída para assumir a secretaria de obras, o que teria consolidado a posse do Arnaldo Martins. Fale um pouco sobre esse episódio?

Chagas Neto – Aconteceu. Ele (Arnaldo Martins) de posse do mandato e sendo coronel do exercito, em época de fim da ditadura militar, certamente teve aberturas para conseguir se firmar no cargo. Ele veio a ocupar a vaga de Expedido Júnior, que acabou tendo alguns votos anulados em Rolim de Moura contabilizados a favor de um homônimo de Porto Velho que nunca havia colocado os pés em Rolim.

Tudorondônia - À época, sua base eleitoral era a capital, isso influenciou em sua vitória?

Chagas Neto – Não exatamente. Em Porto Velho tive mais de cinco mil votos dos 18.100 com que fui eleito. Os outros votos vieram dos vários municípios. Aliás, essa foi uma das razões de eu ter escolhido, quatro anos depois, Presidente Médici como minha base eleitoral. Sempre trabalhei por todos os municípios, mas tive votação muito expressiva na região central do estado, o que me levou a fixar uma base eleitoral em Presidente Médici, porque está no centro do Estado.

Tudorondônia - Em 1990 o senhor se lançou para o senado tendo como base um município pequeno como Presidente Médici. Hoje, passados mais de 20 anos, como o senhor avalia isso, essa atitude de ter se lançado ao senado como uma base tão pequena. Foi um erro?

Chagas Neto – Não. Esse fator não influenciou. As razões de não me eleger foram outras.

Tudorondônia - Depois de 1990 o senhor não se elegeu mais?

Chagas Neto – Eu fui candidato por duas vezes a deputado federal, depois de perder, em 1990, para o senado, e, em 1994, fiquei na primeira suplência de deputado federal. Em 1998 também fui candidato, mas sem vontade de ser, o partido me fez candidato, mas não fiz campanha. Daí pra frente, fiquei sendo presidente do PTB, por 10 anos, só fazendo política partidária, não eleitoral.

Tudorondônia – O senhor se sente um derrotado político?

Chagas Neto – Não, porque eu poderia ter sido eleito senador em 1990. Minha certeza era o entusiasmo do povo, era meu trabalho como deputado federal. Estava tudo certo, até porque Odacir Soares, que se elegeu senador em 1990, quase nem fez campanha e foi eleito. Eu me sinto injustiçado.

Tudorondônia - Nesse16 de outubro completaram 23 anos do assassinato do senador Olavo Pires, qual a avaliação que o senhor faz daquele momento e como avalia se ele tivesse sido eleito governador?

Chagas Neto – Olha, ele era uma pessoa de trato difícil, muito explosivo, valorizava muito o ego, se sentia inatingível, era sempre superior a tudo e a todos, por isso foi assassinado. Ele fez medo a muitas pessoas.

Tudorondônia – O senhoracredita que teve complô político contra o senador Olavo Pires e uma trama para assassiná-lo naquelas circunstâncias?

Chagas Neto – Uma coisa eu digo, ele (Olavo Pires) não era traficante de drogas, então quem o matou não foi o narcotráfico. Em seis meses de campanha com ele, dormindo no mesmo quarto, e nunca percebi nada que indicasse que ele tivesse uma relação com narcotraficantes.

Tudorondônia – O senhoracreditaque houve uma orquestração para caracterizar a morte de Olavo como crime de tráfico?

Chagas Neto – Ele (Olavo) fez muitos inimigos. Eram muitos grupos dos mais variados segmentos. Não devo qualificar porque não tenho provas, mas ele criou isso e esses grupos se uniram para derrotá-lo em vida. Não posso provar nada, mas acabaram com ele em vida para depois matá-lo.

Tudorondônia – Olavo aparecia bem nas pesquisas, o que houve que ele quase amargou derrota e chegou a ir ao segundo turno com o então ainda desconhecido Valdir Raupp?

Chagas Neto – Os ataques à imagem pública dele o fizeram desmoronar. Olavo perdeu a estrutura emocional, não conseguia mais se pronunciar na TV nem no palanque, isso fez com que Raupp se elevasse. Pianna também chegou muito próximo, em terceiro lugar.

Tudorondônia – Esses acontecimentos atingiram também sua campanha para o senado. Guarda mágoa de alguém especificamente?

Chagas Neto – Não guardo mágoa política de ninguém. Sei que se tivesse saído para deputado federal eu teria sido eleito. Fui, inclusive, convidado a ser candidato a deputado federal no PMDB pelo então governador Jerônimo Santana. Mas, embora tenha perdido, não me arrependo de ter saído para senado, se não o fizesse teria me sentido um covarde.

Tudorondônia – Recentemente o senhor refiliou-se ao PMDB. Tem pretensão de voltar à disputa eleitoral ou apenas para atuar na militância?

Chagas Neto – O PMDB foi o primeiro partido ao qual me filiei, em 1985, a convite do advogado Orestes Muniz, que à época era candidato a vice- governador do Jerônimo. Em minha primeira candidatura, fui eleito o terceiro mais votado do Estado.
Tudorondônia – Como foi sua trajetória política?

Chagas Neto – Além de deputado federal, fui secretario de estado do governo Jerônimo. Tivemos desavença e eu acabei me afastando, indo para o PL, onde fui presidente. O Orestes Muniz também se filiou ao PL atendendo a um convite meu e saiu candidato ao governo, em 1990, pela legenda. Se eu mantivesse o PL coligado ao PTB, como o Olavo Pires queria, eu inviabilizava a candidatura do Orestes, então pra isso não acontecer entreguei o PL ao Orestes e, mais tarde, me filiei ao PTB. Foi a decisão mais importante que eu tinha que tomar, porque o Olavo tinha as eleições praticamente ganha. Quando começou a acontecer os ataques à figura dele (acusado de tráfico e de assassinato), nossa campanha ruiu. Tínhamos mais de 50% das intenções de votos e, ao final, esse percentual caiu para pouco mais de 20%.

Tudorondônia – Sua volta ao PMDB tem propósito político?
Chagas Neto – Me refiliei a convite do governador Confúcio Moura e do presidente estadual do partido, Tomás Correa. Eu sou um político nato, vivencio política. Gosto disso e se eu tiver oportunidade de concorrer ao pleito, vou aceitar, mas vai depender de muitas circunstâncias, como apoio, vontade e logística.

Tudorondônia – Qual a sua avaliação do momento político de Rondônia?

Chagas Neto – Estamos vivendo uma situação muito delicada, em função desse processo de ficha limpa que conturbou o cenário político. Exemplo disso é o Expedito Júnior que era favorito nas últimas eleições e que acabou decaindo. Hoje ele poderia ser governador desse estado.
Tudorondônia – O senhor é contra a ficha limpa?

Chagas Neto – Sou a favor da ficha limpa. Acho que devia ser implantado em todos os poderes.
Tudorondônia – Que avaliação o senhor faz do governo atual?

Chagas Neto – O governo do Estado está numa situação muito boa, teve alguns percalços, mas tende a melhorar.

Tudorondônia – Passados 33 anos de sua chegada a Rondônia, acha que Jorge Teixeira foi injustiçado politicamente?

Chagas Neto – Sim, ele saiu do governo e depois de um ano lançou o filho a deputado federal com apoio de Jerônimo Santana. O filho dele com o mesmo nome não teve três mil votos. Ele foi injustiçado politicamente.

Tudorondônia – Qual a sua mensagem ao povo de Rondônia?

Chagas Neto – Quero dizer ao povo de Rondônia que vim para esta terra em 1980 para ficar, gosto daqui, minha família quase toda mora aqui. Hoje já me consagrei como rondoniense. Metade da minha vida foi vivida aqui, participando ativamente do desenvolvimento do Estado. Se Porto Velho hoje está com o crescimento ordenado, deve-se um pouco ao nosso trabalho. De certa forma, ajudamos a cidade a ter o seu crescimento minimamente ordenado, não com invasões, não tomando terras dos outros. São mais de 20 conjuntos habitacionais que tiveram a nossa participação. Desde o Santo Antônio ao Ulisses Guimarães, que foi doado à população carente. O conjunto 4 de Janeiro que foi o primeiro conjunto comercializado do Brasil, financiado pela Caixa Economia.
 Tudorondônia – Obrigado pela entrevista.
 Chagas Neto – Eu é que agradeço aos amigos Carlos Araújo e Rubens Coutinho pela oportunidade. Um grande abraço ao povo de Rondônia.

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