Opinião

Gaspari
  Sempre é o caso de repetir a lição do embaixador Azeredo da Silveira: "Tem gente que atravessa a rua para escorregar na casca de banana que está na outra calçada". O Ministério da Cultura e a Biblioteca Nacional meteram-se com uma farra na feira de livros de Frankfurt e comprometeram R$ 18,9 milhões da Viúva para custear a homenagem que o país receberá.
Trata-se de um evento de negócios que começa quarta-feira, dura uma semana, mas estará aberto ao público por apenas dois dias. Para ele convidaram 70 escritores, à custa da Boa Senhora. Ganha uma viagem a Cuba quem souber a importância de uma homenagem na feira de Frankfurt para quem paga imposto em Pindorama, onde a Biblioteca Nacional, arruinada, não abre aos domingos e nela é vedado o uso de canetas. Recarga para o laptop, só num restaurante próximo.
Em 2000, quando o governo de FHC torrou R$ 14 milhões na feira de Hanover, comemorando os 500 anos do Descobrimento, o procurador Luiz Francisco de Souza acusou a empresa que montou o pavilhão brasileiro de improbidade. Se os empresários do mercado editorial brasileiro precisassem da homenagem da feira, poderiam recebê-la, com o dinheiro deles. O setor está grandinho. Faturou R$ 5 bilhões em 2012 e nele há administradores sagazes. Em 2012, o Brasil importou 13,5 mil toneladas de livros mandados imprimir na China. Afinal, custam a metade. Dão emprego a chineses e, com o dinheiro dos brasileiros, festejam-se na Alemanha.
Às vésperas da feira, viu-se que foram contratados serviços sem as devidas licitações, e um jornal alemão lembrou que entre os 70 escritores convidados há apenas um negro, Paulo Lins. Apesar disso, o Brasil é apresentado como "um país que se reinventa". Na sexta-feira, o escritor Paulo Coelho detonou a comitiva da reinvenção.

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