Opinião

Pedro Luiz Rodrigues
Anarquismo: o Brasil está virando a Colônia Cecília
Se o velho anarquista Giovanni Rossi ainda estivesse vivo, estaria de sorriso solto, satisfeito em ver que os princípios de sua doutrina estão afinal, com atraso de mais de cem anos, conquistando o Brasil de ponta a ponta.
Rossi, jornalista, veterinário e engenheiro agrônomo, era um ácrata, o que quer dizer que não aceitava a legitimidade de nenhuma imposição. Nem mesmo aquelas que as constituições atribuem ao Estado.
Assim está ficando o Brasil, onde a essência mesma do estado democrático de direito vem sendo diariamente dilapidada por bandos de malfeitores encapuçados que, amparados pela Justiça, mal são detidos, retornam às ruas para praticar a violência.
Giovanni Rossi quis bem menos, apenas trazer gente da Itália para estabelecer uma colônia agrícola no Brasil. Em seu país natal havia estabelecido uma primeira comuna libertária experimental (Cremona,1887).
Em viagem para tratamento médico na Europa, D. Pedro II toma contato com um livro de Rossi ( Il Commune in Riva al Mare ),   que lhe atrai a atenção pelo humanismo e pela proposta de superação das desigualdades. Na obra, o italiano descreve uma colônia experimental, em um país da América, sem propriedade privada, sem dogmas, sem hierarquia. O Imperador escreveu para Rossi e propôs-lhe que levasse a cabo o experimento no Brasil.
Quando a Colônia Cecília foi finalmente instalada no município de Palmeira (Paraná), já era a República.  Caducara a doação dos 300 alqueires que lhe havia feito o Imperador, pois o novo regime não reconheceu a concessão de terras a estrangeiros feitas pelo regime deposto. Rossi não esmoreceu, arranjou dinheiro e comprou as terras.
Mas a utopia patrocinada por Rossi durou pouco. Sob as regras do anarquismo, a colônia durou poucos anos (1890 a 1893) acabou na miséria.
120 anos depois estamos reeditando, em escala nacional, a experiência desastrada da Colônia Cecília.

Pedro Luiz Rodrigues é diplomata, jornalista e meu amigo.

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