Opinião

Meus herois continuam morrendo de falta de vergonha:agora Chico, Caetano etc

De:
Paulo Saboia 
        Já há bastante tempo fiz uma avaliação das crenças da nossa juventude.
Embarcamos em canoa furada graças ao proselitismo ideológico de esquerda que
nos ofertava, por puro oportunismo, deles, uma alternativa democrática à
ditadura militar. Claro que o vigor juvenil contraposto às aberrações da
ditadura de direita não nos permitia ver que o que a esquerda queria não era
a democracia,   mas sim implantar a "sua" ditadura. Nós éramos usados, sim,
embora muitos de nós desconfiássemos  disso,   mas havia sempre o argumento
da luta contra a ditadura - e admitamos - uma certa crença no mundo novo e
no "homem novo".  Se eles eram oportunistas, nós éramos ignorantes e
preguiçosos. Não estudávamos – aí também me incluo pessoalmente - a teoria 
 nem nos
interessávamos, salvo meia dúzia, pelo conhecimento da História.
Os heróis das gerações mais recentes morreram de over dose. Os nossos
morreram de sem-vergonhice mesmo: perderam na guerrilha e no terrorismo, sim, mas
voltaram por força da restauração democrática, que pouco deve a eles, e a
utilizaram não para fazer o que pregavam mas, primeiramente, para se
empanturrarem na esbórnia das indenizações milionárias  não
porque foram vitoriosos mas sim  por uma espécie de vingança – às nossas custas - por terem sido derrotados. Como disse o Millôr - um dos poucos decentes nesta história
de ganhos fantásticos e abomináveis - eles não lutavam por um ideal; faziam
era investimento para o futuro.
Quanto a este sujeito, Guevara, especificamente, cada vez me convenço mais
de que foi mesmo uma pessoa cruel e odiosa tanto quanto seus companheiros
Fidel, Raul, o ditador da vez - este é quem coloca, repare com que frieza, a
venda nos olhos do condenado naquela foto do fuzilamento em que o Che está
de costas  - e tantos outros, sem esquecer de Stalin, Mao, Pol Pot e suas ditaduras igualmente sangrentas. Ditaduras, de esquerda ou direita, são sempre um mal em sí mesmas.
Entanto, até um dia destes eu tinha uma cópia daquela foto clássica com a
inscrição cínica do apelo à ternura - logo quem - que eu guardava, parte por
razões afetivas - meu sogro Roberto trouxe-a de Cuba junto á um delicioso
rum - parte como registro de um período de crença em utopias hoje para mim
historicamente superadas mas que fizeram parte da minha vida pessoal. Se bem
que ultimamente servia também para execração: por causa dele, durante algum
tempo acreditei que um verdadeiro revolucionário não podia se envolver com
as companheiras porque isto fazia parte de sentimentos burgueses desprezíveis.!!! Isso tanto  tinha de ignorância teóríca  quanto de estupidez prática:  por causa disso afastei
algumas vezes o doce cálice da tentação enquanto nossos líderes, soube depois, se
refestelavam com as companheiras, os daqui, nos areais da praia do futuro e
adjacências. Poderia ter perdão um indivíduo que propagava tais e tantas ignomínias? Felizmente os cupins, bichinhos sábios e operosos, pouparam-me destas dúvidas existenciais, comendo com reconfortante competência, todo o retrato e a moldura. Não
sobrou nada, para meu completo alívio revolucionário.
 
Paulo Cesar Saboia Montalverne é advogado, esta "jubilado" e é meu amigo.

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