Lula admite: PT apredeu a corrupção

Lula sobre PT: crescimento trouxe ‘a corrupção’

Josias de Souza

Em entrevista ao repórter Jesús Ruiz Mantilla, veiculada no diário espanhol El País, Lula fez uma análise sobre a história do PT. A certa altura, pronunciou algo muito parecido com um mea culpa, algo raro na sua retórica. Disse que, ao longo dos seus 33 anos de existência, o partido foi adquirindo defeitos à medida que crescia. Entre os vícios que o PT contraiu está “a corrupção”, admitiu Lula.
Para que não se imagine que Lula estava completamente fora de si, é preciso realçar que ele também se autoelogiou por ter aperfeiçoado os mecanismos de fiscalização do Estado. E não perdeu a oportunidade de acusar a imprensa de prejulgar os dirigentes petistas, condenando-os até à “prisão perpétua”.
Na origem, disse Lula, o PT “era um partido pequeno, que depois passou a ser grande e, como tal, foram aparecendo defeitos. Gente que dá muito valor ao Parlamento, outros aos cargos públicos…” Nesse ponto, o repórter interveio. “Com um grande processo de corrupção pelo meio…” Lula assentiu: “Também”. Mas ainda tentou mudar o rumo da prosa.
“Queria dizer que as pessoas tendem a esquecer os tempos difíceis em que era bonito carregar pedras”, Lula prosseguiu, em timbre saudosista. “A gente acreditava, era maravilhoso. Um grupo mais ideológico, as pessoas trabalhavam de graça, de manhã, de tarde e de noite. Agora você vai fazer uma campanha e todo mundo quer cobrar. Não quero voltar às origens, mas gostaria que não esquecêssemos para que fomos criados. Por que queríamos chegar ao governo? Não para fazer como os outros, mas para agir de maneira diferente.”
Em nova interrupção, o repórter recordou a frase cunhada por Lula, que lhe rendeu muitas críticas: “Nunca antes na história do Brasil…” Em seguida, ele convidou o entrevistado a retomar o seu raciocío sobre a história do PT: “Mas dizia que nesse processo de crescimento…” E Lula emendou, categórico: “Aparece a corrupção.” À autocrítica, seguiram-se os elogios baseados em autocritérios.
Lula disse duvidar “que exista no mundo uma nação com a quantidade de investigações que tem o Brasil”. Nada declarou sobre a baixa quantidade de punições. Preferiu dizer que, pelas suas contas, 90% das denúncias são feitas pelo próprio governo. Jactou-se de ter contratado policiais, reforçado os serviços secretos e fortalecido o controle das contas do Estado. “Quanto mais transparência melhor.” Absteve-se de explicar os motivos que o levaram a desqualificar tantas vezes as provas levadas ao processo do mensalão pela Polícia Federal que ele diz ter aperfeiçoado.
“O que digo aos companheiros é que só há uma forma de não ser investigado nesse país: não cometer erros”, declarou Lula a alturas tantas, pouco antes de tomar as dores dos petistas encrencados no mensalão. Sem chamar o escândalo pelo nome, ele afirmou que não se pode admitir que, “depois que uma pessoa se submete a um processo e não se descobre nada, ninguém se desculpe.” Entre os figurões do PT que o Ministério Público denunciou, apenas Luiz Gushiken foi absolvido por falta de provas.
“Me preocupam essas condenações a priori”, Lula continuou, sem se dar conta de que as condenações de seus companheiros José Dirceu, José Genoino, João Paulo Cunha e Delúbio Soares já entraram na fase do “a posteriori”. Ainda serão julgados os “embargos infringentes”. Mas já não há como eliminar as culpas. Pode-se, no máximo, encurtar os castigos. Condenados ao regime fechado podem, por exemplo, receber o refresco da prisão em regime semiaberto.
Sem se dar por achado, Lula evitou criticar o STF. Preferiu bater na imprensa: “No caso dos companheiros do PT, já foram previamente condenados. Alguns meios de comunicação o fizeram, independente da sentença, inclusive à prisão perpétua. Alguns [réus] nem podem sair na rua”, ele exagerou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário