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Ex-militar afirma que capitão matou casal de militantes na ditadura

DE SÃO PAULO
O ex-soldado Valdemar Martins de Oliveira afirmou ontem à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo que o então capitão do Exército Freddie Perdigão Pereira assassinou o casal de estudantes João Antônio e Catarina Helena Abi-Eçab, mortos aos 24 e 21 anos, respectivamente, em novembro de 1968.
A versão oficial apresentada na época foi que o casal morreu em um acidente de carro, próximo à cidade de Vassouras (RJ), após detonação de explosivos que eles estariam transportando.
O caso foi parcialmente esclarecido em julho de 2000, quando o laudo de uma exumação no corpo de Catarina concluiu que ela havia levado um tiro na nuca e só depois foi colocada no carro.
Em seu depoimento ontem na Assembleia Legislativa de São Paulo, Valdemar de Oliveira relatou que o casal foi sequestrado em uma casa no bairro de Vila Isabel, zona norte do Rio, e levado para um sítio em São João de Meriti (RJ), onde foram torturados por militares do Exército.
Quando já estavam desacordados, o então capitão Perdigão teria dito: "Esses aí já não servem para nada", e atirado. "Eu vi. Ele se abaixou e, de joelhos, deu um tiro na cabeça de cada um", afirmou Oliveira.
Segundo o ex-militar, o casal, que militava na Ação Libertadora Nacional (ALN), foi sequestrado por suspeita de participação no assassinato do militar norte-americano Charles Chandler em 1968.
Conhecido pelo codinome de Dr. Nagib, Perdigão atuou no DOI-Codi do Rio e na agência carioca do SNI e é considerado o mentor do atentado a bomba no Riocentro, em 1981. Ele morreu em 1997.
Segundo o ex-militar, o sargento Guilherme Pereira do Rosário também estava no sítio em São João de Meriti e teria presenciado o assassinato de João Antônio e Catarina Helena. O sargento morreu no atentado do Riocentro.
Oliveira disse ainda que a cena do acidente de carro foi forjada pelos militares.
Em 2001, Oliveira afirmou à reportagem do "Jornal Nacional", da TV Globo, que foi testemunha da morte do casal Abi-Eçab, mas na época ele não citou nomes.
Ontem, o militar afirmou que não havia revelado antes o nome do autor do assassinato porque havia sofrido ameaças. (PATRÍCIA BRITTO)

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