No mundo globalizado...

Obama tenta resgate de valores (Editorial)

O Globo
O “New York Times” classificou o discurso de quinta-feira do presidente Obama como “o mais importante pronunciamento sobre as ações de contraterrorismo desde os ataques de 2001”. De fato. Pela primeira vez, desde que o presidente Bush, sob o impacto e a dor da hecatombe de 11 de setembro no coração de Nova York, declarou guerra ao terror, um presidente reconhece que “esta guerra, como todas as outras, precisa acabar”.
“É o que a História nos aconselha. É o que nossa democracia exige”. O jornal dá crédito a Obama, mas ressalva que o discurso deveria ter sido feito antes. A Casa Branca aproveitou momento delicado para o governo, em relação a direitos civis e liberdade de imprensa, para dar um salto adiante.
A mensagem de Obama, em síntese, é: as leis de exceção aprovadas para alavancar o poder do Estado e as práticas adotadas para caçar terroristas após 11/9 contaminam a democracia e destroem a credibilidade dos EUA. Precisam ter fim. De fato.
A imagem de Obama como homem de diálogo se desgastou, após virem a público informações de que o fisco usou práticas discriminatórias contra organizações conservadoras, o serviço secreto grampeou telefones da agência Associated Press e o Departamento de Justiça acusou um jornalista da Fox News, porta-voz do conservadorismo, de participar de uma conspiração ao fazer seu trabalho.
Obama não deu prazo para o fim das medidas de exceção, até porque o terror mudou de cara, mas continua ativo. O que fez, e daí a importância do pronunciamento, foi estabelecer limites e submeter as ações a regras e normas restritivas, aproximando-as do império da lei.
Ao mesmo tempo em que, pela primeira vez, reconheceu ter ordenado o envio de drones para matar um americano no exterior, prometeu que esta arma só será usada contra uma ameaça iminente e contínua a americanos e quando falharem todas as outras tentativas para neutralizá-la. E sob supervisão pública, judicial ou do Congresso.
A prisão de Guantánamo, grande nódoa nos direitos humanos, voltou à baila. Pela terceira vez o presidente prometeu fechá-la e levantou a restrição à transferência de presos para o Iêmen. São deste país 90 dos 166 presos, dos quais 56 estão liberados há anos por não representarem ameaça. Trinta de outras nações estão na mesma condição.
Obama também mostrou preocupação com os últimos episódios de violação dos direitos civis e liberdade de expressão. Sobre esta, afirmou que “jornalistas não devem ser submetidos a constrangimentos legais ao exercer sua profissão”. Afirmação óbvia numa democracia, mas necessária no momento.
No discurso, o líder americano reconheceu que, “em alguns casos, comprometemos nossos valores básicos — ao usar tortura para interrogar inimigos e ao deter pessoas ao arrepio da lei”. São esses valores que ele, em boa hora, propõe resgatar. Boa notícia aos democratas do mundo inteiro, para os quais os EUA são uma referência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário