Mau humor (Opinião)
Lula Vieira - Publicitário
Não
me lembro direito, mas li numa revista, acho que na Carta Capital, um
artigo levantando a hipótese de que todo o cara que tem mania de fazer
aspas com os dedinhos quando faz uma ironia é um chato. Num outro artigo
alguém escreveu que achava que jamais tinha conhecido um restaurante de
boa comida com garçons vestidos de coletinho vermelho.
Joaquim Ferreira dos Santos, em 'O Globo' de domingo, fala do seu profundo preconceito com quem usa 'agregar valor'.
Eu
posso jurar que toda mulher que anda permanentemente com uma garrafinha
de água e fica bebendo de segundo em segundo é uma chata. São
preconceitos, eu sei.
Mas cada vez mais a vida está
confirmando estas conclusões. Um outro amigo meu jura que um dos maiores
indícios de babaquice é usar o paletó nos ombros, sem os braços nas
mangas.
Por incrível que pareça, não consegui
desmentir. Pode ser coincidência, mas até agora todo cara que eu me
lembro de ter visto usando o paletó colocado sobre os ombros é muito
babaca.
Já que estamos nessa onda, me
responda uma coisa: você conhece algum natureba radical que tenha
conversa agradável? O sujeito ou sujeita que adora uma granola, só come
coisas orgânicas, faz cara de nojo à simples menção da palavra 'carne',
fica falando o tempo todo em vida saudável é seu ideal como companhia
numa madrugada? Sei lá, não sei.
Não consigo me lembrar de ninguém assim que tenha me despertado muita paixão.
Eu
ando detestando certos vícios de linguagem, do tipo 'chegar junto',
'superar limites', 'focar' essas bobagens que lembram papo de
concorrente a big brother. Mais uma vez, repito: acho puro preconceito,
idiossincrasia, mas essa rotulagem imediata é uma mania que a gente vai
adquirindo pela vida e que pode explicar algumas antipatias gratuitas.
Tem gente que a gente não gosta logo
de saída, sem saber direito por quê. Vai ver que transmite algum sintoma
de chatice. Tom de voz de operador de telemarketing lendo o script na
tela do computador, repetindo a cada cinco palavras a expressão
'senhoooorrr' e dizendo que 'vou estar anotando' e 'vamos estar
providenciando' me irrita profundamente.
Se algum dia eu matar alguém, existe
imensa possibilidade de ser um flanelinha. Não posso ver um deles que o
sangue sobe à cabeça. Deus que me perdoe, me livre e me guarde, mas
tenho raiva menor do assaltante do que do cara que fica na frente do meu
carro fazendo gestos desesperados tentando me ajudar em alguma manobra,
como se tivesse comprado a rua e tivesse todo o direito de me cobrar
pela vaga.
Sei que estou ficando velho e ranzinza, mas o que se há de fazer?
Não
suporto especialista em motivação de pessoal que obrigue as pessoas a
pagarem o mico de ficar segurando na mão do vizinho, com os olhos
fechados e tentando receber 'energia positiva'.
Aliás, tenho convicção de que empresa
que paga bons salários e tem uma boa e honesta política de pessoal não
precisa contratar palestras de motivação para seus empregados. Eles se
motivam com a grana no fim do mês e com a satisfação de trabalhar numa
boa empresa.
Que me perdoem todos os palestrantes
que estão ficando ricos percorrendo o país, mas eu acho que esse negócio
de trocar fluidos me lembra putaria.
E
para terminar: existe qualquer esperança de encontrar vida inteligente
numa criatura que se despede mandando 'um beijo no coração'?
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