A placa da discórdia
Cursei todo o ginasial ao lado de grandes jovens, hoje muitos deles importantes figuras da vida brasileira. Entre eles estava um vizinho de rua e de número, eis que eu Pompeu, ele Paulo, um era o 43 no primeiro ano ginasial e eu o 44. A vida que nos levou de um lado a outro não separou nem o velho colega de banco escolar muito menos o amigo querido que carrego no coração. Daí que, levar um carão do amigo, recompondo a história é melhor que bom, porque bom é pouco para quem faz questão de contar histórias de sua cidade, a nossa, minha e dele Sobral do nosso tempo até hoje. Tão amigos somos que o Paulo em questão sequer chama o amigo de Macário Batista, mas simplesmente de Pompeu, o primeiro pré-nome meu então assim até ir pra imprensa lá nos 14 anos de idade, coisa que o Paulinho da Dona Nazinha nunca esqueceu. Postei hoje uma foto (acima) feita numa esquina de Sobral quando lá estive e, surpreso, recebi agora de noitinha esta carta-convite do Paulo Cesar Saboia Mont"Alverne, botando os pingos nos ís e recompondo a página que imaginei que estava contando corretamente. Não era. Passei perto, mas estava errado. E por estar errado, mostro o carinho do Paulo Cesar atualizando avô e trisavô dele e de parte da vida de Sobral.
Pompeu, amigo:
Leitor "cotidiário" do seu blog, ví hoje a postagem
das placas em Sobral. Em mesa de bar a conversa renderia muito mas na
frieza da web faço dois adendos:
1. O Cel. José Saboia da placa é José Balthazar
Augery de Saboia, comerciante abastado em Sobral, que é avô do
Dr. José Saboia, Juiz de Direito( meus trisavô e avô, respectivamente). Os dois
das placas nem sequer se conheceram pois de gerações diferentes. Mas o Bispo e o
Juiz efetivamente se encontram quando a av. D. José
atravessa a praça Dr. José Saboia. um quarteirão antes deste cruzamento
aí.
2. Hoje sou convicto, pelo que ouví e
pesquisei, que não havia essa inimizade ferrenha entre o Bispo e o
Juiz, como muitos supõem a partir de conhecidas e
batidas narrativas livrescas maldosas e/ou equivocadas. Houve, é
certo, desavenças episódicas, como era de se esperar entre quem, por tantos
anos, exercera o poder espiritual, um, e temporal o outro. Ao contrário do
propalado, há fatos que revelam uma amizade subjacente, inclusive
entre as famílias de ambos. Lembro -me agora de tres deles:
- A transferência do então padre José Tupinambá
para Uberaba -MG foi sustada, a pedido da família, por interferência de
José Saboia junto a seu irmão Vicente, figura de muita projeção no Rio de
Janeiro, o qual reverteu a situação através de gestões junto ao Núncio
Apostólico.
Isso foi na década de 1010 e revela
amizade.
- Em 1941, na imponente visita do primeiro
Núncio a pisar em Sobral, foi José Saboia quem fez, a pedido de D.
José, a saudação ao visitante em nome das famílias
sobralenses. Desafetos não se tratam assim.
- Nas comemorações das Bodas de Ouro do casal
José Saboia/Sinhá, em 1943, foi o próprio D. José quem celebrou a missa solene
realizada na Catedral da Sé, em ação de graças pelo aniversário do
casamento, a que se seguiu o costumeiro banquete residencial. Inimigos não
confraternizam assim em tão estreita comunhão.
Das vezes em que terçaram armas - com elegãncia,
respeito e seriedade como convinha a dois cavalheiros de exemplar
dignidade - uma uma me é particularmente saborosa..
Foi no episódio do jogo da tômbola em prol da
construção da Santa Casa de Misericórdia promovida por D. José. Embora com
fins meritórios, tratava-se de jogo de azar proibido por lei e por isso o Juiz
cancelou a sua realização. Criou-se a celeuma na cidade.A situação pode ser
resumida em duas assertivas das autoridades, eclesiática e
judiciária.
D. José, impávido:" As torres da minha Igreja
são mais altas que o telhado do Forum"
Dr. José Saboia, contundente: " Na minha Comarca a
lei é para todos. Inclusive para o Bispo."
E mandou recolher a tal tômbola.
Vale acrescentar que, não se sabe se por estas ou
por outras, a maior contribuição individual para a construção da Santa Casa foi
de Dona Francisca, mãe de José Saboia, que por sinal, já como dono da Fábrica de
tecidos, supriu durante longos anos a água, a energia e os tecidos daquele
hospital.
A gente se descuida e começa a falar mais do que
queria. Mas entre amigos é assim mesmo.Afinal estamos falando de dois homens
cuja integridade moral é muito pouco encontradiça nos dias de hoje.
Abração, do Paulo Saboia
Penso eu :
"Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de
si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não
nasceu da noite para o dia. Nasceu num contexto histórico específico,
com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando
tem relações com essas coisas. Se um indivíduo cresce sem ligação com o
passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse
perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo que mutilá-lo."
CarlJung
Só depois de 40 anos é que fui saber que a Rua Cel. José Sabóia e a Praça Dr. José Sabóia não homenageiam a mesma pessoa. Quase todo sobralense se questionado, dirá que são a mesma pessoa.
ResponderExcluirEu também meu irmão. E veja que nem o Zé Alberto Dias Lopes sabia disso. Talvez só o Zé WIlson Brasil que já se foi.
ResponderExcluirE o Paulinho Saboia que é do "ramo".
Bom dia.