A vida por uma pedra


Onze homicídios por dia no Ceará
Multiplicam-se os testemunhos de medo e insegurança. Cresce, assustadoramente, os índices de violência. No cenário, que lembra uma guerra civil, as estatísticas referentes aos assassinatos, no Ceará, alarmam mais uma vez. Divulgados, ontem, pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), dados referentes à quantidade de homicídios dolosos registrados, no Estado, nos primeiros quatro meses deste ano, dão conta que 1.356 pessoas foram assassinadas. Uma média de 11 execuções por dia. Destas, 48% das mortes ocorreram na Capital.
Se comparado a 2012, o total de assassinatos, no Estado, durante o período, foi 24% maior este ano. Foram 262 homicídios a mais. Das 1.356 ocorrências de 2013, 662 deram-se, em Fortaleza, enquanto no ano passado, o total, neste intervalo de tempo, foi de 506. Já os crimes nos demais 183 municípios do Estado, totalizaram 694, enquanto, em 2012, o registro foi de 588.  Dentre os seis municípios mais violentos, cinco integram a Região Metropolitana de Fortaleza (Caucaia, Maracanaú, Itaitinga, Aquiraz e Eusébio) totalizando 188 homicídios.  
Quando consideradas somente as execuções realizadas, em Fortaleza, a média de assassinatos chega a cinco por dia.  O que significa um crescimento de 31% das ocorrências, se comparado a igual período de 2012. Barra do Ceará, Jangurussu, Bom Jardim, Pici e Vila Velha despontam na lista negativa como os bairros, onde mais assassinatos foram cometidos, totalizando 108. Dentre os quatro meses, a situação registrada, em março, é mais alarmante, já que o período concentra 31% do total de ocorrências.
MORTES NATURALIZADAS
O cenário choca e fomenta os discursos e as sensações de temor. Porém, na avaliação do sociólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC) Luiz Fábio, tais reações são recortadas à medida que o alerta e sensibilização são comprometidos. “O número, em geral, consegue homogeneizar as características dessas mortes. O susto que a sociedade leva está atrelado à condição ocupada pelo morto, pois absorve-se uma expectativa que, em determinados territórios, é ‘normal’ ser executado”, comentou.  

De acordo com ele, embora as estatísticas “criem uma representação geral da violência”, é necessário jogar luz sobre a concentração destes homicídios, em determinados bairros da Capital, que no apelo social de combate à violência, acabam não sendo vizibilizados. “Quando um assassinato ocorre em um bairro nobre, onde a criminalidade começa a atingir aquela população, o alarme e a pressão social tendem a fazer disso algo inadmissível, porém esta mesma violência e normatizada em outras áreas e isto é muito preocupante”, completou. 
AUSÊNCIA DE CONTATO
Procurada pelo jornal O Estado, a SSPDS, informou, através de sua assessoria de comunicação, que um representante da Polícia Militar responderia aos questionamentos da equipe do jornal. Em contato com o relações-públicas da PM do Ceará, tenente-coronel Fernando Albano, foi informado que o comandante-geral da PM, Werisleik Matias, estava em uma visita de cortesia à sede da 10ª Região Militar de Fortaleza e que somente ele falaria sobre as estatísticas. A equipe solicitou então uma entrevista com o comandante, mas até o fechamento desta edição não obteve retorno.

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