Vão sair das calçadas "lojas" de camelôs

Ruas e calçadas ainda são espaço de comércio

 

saraoliveira@oestadoce.com.br

Os fortalezenses já perderam as contas de quantas ações foram divulgadas com o objetivo de reordenar os ambulantes do Centro. Até o dia 11, nova atualização cadastral tentará definir o número exato de comerciantes, quantitativo desconhecido pela atual gestão da Secretaria Executiva do Centro (Sercefor). A Prefeitura não tem, ainda, conhecimento de nenhuma das iniciativas anunciadas e/ou executadas nos últimos oito anos. Os vendedores sabem que deverão adequar-se e têm, mais uma vez, a esperança de regularidade e possibilidade de trabalho.
A atualização só contemplará quem já possui algum tipo de permissão da Prefeitura de Fortaleza. De acordo com o titular da Sercefor, Régis Dias, existem aproximadamente 2.500 comerciantes, entretanto, apenas 900 fazem parte do cadastro oficial, o restante teria recebido autorização apenas provisória para efetuar as vendas. Sobre as promessas feitas pela última gestão, em 2012, que incluíam, além de outras atualizações cadastrais, construção de três mil boxes distribuídos em shoppings, o secretário afirmou não ter nenhuma informação.
Vinte e uma ruas são ocupadas, atualmente, por carrinhos de comida, balcões com eletrônicos, cabides de calcinhas ou almofadas espalhadas no asfalto. As praças José de Alencar, Lagoinha e Estação também sofrem com o uso indevido do espaço público. Nas duas últimas, a intenção da Sercefor é desocupar e alojar os cerca de 500 ambulantes em 400 espaços já permissionados, porém, sem atuação de comércio.

CENÁRIO DESOLADOR
Na José de Alencar, a perspectiva é de reforma, intervenção que fará parte das obras de conclusão de uma das estações do Metrofor, com inauguração prevista para este mês. De acordo com Régis, apenas 20 comércios têm permissão para atuar na Praça, já invadida por vendedores de calçados, roupas e alimentos. “Quem tem permissão de ficar será readequado de alguma forma, mas o restante deverá sair, pois está irregular”, informou.
Irregularidade e ilegalidade do comércio, aliadas à falta de respeito aos pedestres são alguns dos principais entraves ao reordenamento do Centro. Na Rua General Sampaio, ao lado da Praça, o cenário é antigo e precário: não há, sequer, um metro liberado na calçada para passagem de pessoas. A acessibilidade é um direito completamente nulo e a insegurança é permanente, no trânsito, e até sobre o carro-forte que recolhe o dinheiro de uma farmácia no local, estacionado de forma improvisada.
Apesar da aparente dificuldade em solucionar a ocupação do Centro, o titular da Sercefor garante que há possibilidade de mudança. Apesar de não possuir, ainda, nenhum tipo de projeto para realocação dos comerciantes, Régis afirmou que o diálogo, a organização e a negociação deverão surtir efeitos positivos. “Na José Avelino, por exemplo, há dois meses nenhum turista podia passar em frente à Catedral. Hoje, esta realidade é outra, muito melhor”, destacou.

Serviço
• Cronograma de atualização na Sercefor, com apresentação da cópia dos documentos: identidade, CPF, comprovante de residência (água, luz ou telefone), certidão de casamento (se for casado), duas fotos 3X4 e comprovante de pagamento da taxa de expediente.
Hoje
9h – Rua General Sampaio (entre Duque de Caxias e Liberato Barroso).
13h – Rua General Sampaio (entre Liberato Barroso e João Moreira)
Dia 04/04
9h – Rua Barão do Rio Branco
13h – Rua Senador Pompeu
Dia 05/04
9h – Ruas Solon Pinheiro, Coração de Jesus, José Júlio
13h – Praça José de Alencar, Rua 24 de Maio, Praça Capistrano de Abreu (Lagoinha) e Rua São Paulo
Dia 08/04
9h – Ruas Floriano Peixoto, Major Facundo e Perboyre e Silva
13h – Ruas Pedro Pereira, Pedro I e Assunção
Dia 09/04
9h às 12h e 13h às 16h – Ruas Castro e Silva, João Moreira, Senador Alencar, General Bezerril e demais ruas
Dia 10 e 11/04
9h às 12h e 13h às 16h – Pendências

DA BATATA FRITA AO CABIDE DE CALCINHAS
Da batata frita ao cabide de calcinhas. A cliente procura um sutiã preto, com bojo, e a vendedora exibe modelos e tamanhos diferenciados. Tudo no meio da calçada, entre os transeuntes que espremem-se para locomover-se. Maria Dolores da Silva afirma estar há 15 anos vendendo peças íntimas no mesmo local e pagava R$ 4,50 para atualizar seu cadastro como permissionária. “Sei que tenho de ir lá amanhã e espero que, agora, eles organizem direito, sem misturar quem tem permissão de quem não tem”, ponderou.

O vendedor de batatas fritas, Francisco de Assis da Silva, disse vender o alimento há 20 anos e lamenta nunca poder ter sido cadastrado. “Dizem que é proibido porque é fritura, mas eu sempre estive aqui. Só saio mesmo, minha filha, se o dono da loja reclamar, mas ele não diz nada”, contou. O trabalho é a única renda da família, composta por dois filhos e a esposa. “Mas eu sempre deixo um espaço para o povo passar”, frisou, ressaltando que estacionava seu carrinho no asfalto e não na calçada.
“Eu trabalho na General Sampaio, mas quando o ‘rapa’ passa, venho para cá [Rua Liberato Barroso] porque as vendas são bem melhores, aumentam 30%”, destacou a vendedora Raimundo Rocha, que disse trabalhar há 25 anos no Centro. Ela também deverá atualizar o cadastro hoje junto à Prefeitura, mas teme pelo futuro do negócio: “dizem que só vão admitir 900, quando tem muito mais do que isso”.
 

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