PSC tira proveito na mídia com a crise de FEliciano nos Direitos Humanos


Feliciano tenta aprovar viagem à Bolívia para se livrar de conversa com Henrique Alves e líderes



Se os adversários deixarem, Marco Feliciano (PSC-SP) presidirá nesta quarta-feira (3) mais um tumulto na Comissão de Direitos Humanos da Câmara. A pauta prevê a votação de oito requerimentos. Um deles, o sexto, é de autoria do próprio Feliciano. Na peça, o deputado-pastor pede autorização do colegiado para realizar uma “diligência” em Oruro, na Bolívia. Deseja “acompanhar a situação” dos 12 torcedores do Corinthians presos na cidade.
Feliciano tem a intenção de embarcar na próxima segunda-feira (8). Com isso, ganharia um extraordinário pretexto para faltar a uma reunião marcada para o dia seguinte –um encontro no qual os líderes partidários e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), apelariam para que ele renunciasse ao comando da Comissão de Direitos Humanos. Algo que Feliciano não tem a mais remota intenção de fazer.
Na hipótese de prevalecer no plenário da comissão que tenta presidir, o pastor-deputado provocará o quarto adiamento do encontro com o colégio de líderes. Há duas semanas, após afirmar que a permanência de Feliciano à testa da comissão tornara-se “insustentável”, Henrique Alves reunira-se com dois mandachuvas do PSC: o líder da bancada, André Moura (SE), e o vice-presidente da legenda, pastor Everaldo Pereira.
O presidente da Câmara ponderou que convinha ao PSC trocar Feliciano. Sob pena de a legenda inviabilizar o funcionamento da Comissão de direitos Humanos. O líder e o dirigente do PSC concordaram. Ficou acertado que a dupla convidaria Feliciano para uma conversa com Henrique. Entre quatro paredes, o pastor Everaldo pronunciou na sala da presidência da Câmara uma frase forte: “Se ele não renunciar, será renunciado”.
Na hora marcada, Feliciano não deu as caras. Henrique Alves foi informado de que ele passara mal. Nessa versão, o deputado-pastor chegara mesmo a vomitar. Pedira que lhe dessem um prazo. Queria falar com Deus. Na semana passada, vitaminado pelos contatos celestiais, Feliciano bateu o pé. Disse que não renunciaria, arrastou o apoio da Executiva do partido e dobrou a maioria da bancada de deputados. André Moura e o pastor Everaldo deram meia-volta. E a reunião foi para o espaço novamente.
Sobreveio novo tumulto na comissão. E com ele, novo agendamento de reunião. Ocorreria nesta semana. Por mal dos pecados, Henrique Alves foi ao bisturi. Recupera-se de uma cirurgia. Pelo telefone, sugeriu a André Moura, o líder do PSC, que um xará dele, o petista André Vargas (PR), vice-presidente da Câmara, coordenasse a reunião de Feliciano com o colégio de líderes. Nada feito.
O encontro foi, então, transferido para a próxima terça (9). Dá-se de barato que, na reunião de hoje, a Comissão de Direitos Humanos ferverá novamente. Deve-se a convicção ao fato de Feliciano ter borrifado gasolina na fogueira ao declarar, num culto evangélico de cinco dias atrás, que a comissão era comandada por satanás antes da sua chegada. Ex-presidente do colegiado, a deputada Iriny Lopes (PT-ES) apressou-se em protocolar um pedido de cassação do colega por falta de decoro.
Em privado, Henrique Alves diz que Feliciano não conseguiu separar o discurso de presidente da comissão de sua pregação evangélica. Menciona o seu próprio exemplo. Diz que, como líder do PMDB, tinha maior liberdade retórica. Na presidência da Câmara, precisa ajustar a língua às conveniências da instituição. Alheio às opiniões adversas, Feliciano fala mais do que o homem da cobra. Em entrevista ao repórter Fernando Rodrigues, disse que a reunião com os líderes serviria para achincalhá-lo.
Henrique e os mandarins partidários começam a o perceber o óbvio: Feliciano não joga água fria na fervura porque a ebulição lhe interessa. Rende-lhe votos junto ao seu eleitorado evangélico. E não há muito a fazer. Feliciano já disse que só deixa a comissão se morrer. Uma alternativa seria dar curso ao pedido de cassação formalizado pela petista Iriny. Porém, numa Casa em que os telhados são 99% feitos de vidro, não se encontra gente disposta a atirar pedras.

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