Hospital da mulher em Fortaleza


Somente metade da capacidade é utilizada

SARA OLIVEIRA
saraoliveira@oestadoce.com.br

Há exatos sete meses e 15 dias, tinha início o atendimento no Hospital da Mulher, esperado pela população desde 2004. Atualmente, a unidade, que tem cerca de 80% dos pacientes oriundos do interior, trabalha com 50% da sua capacidade e apresenta ocupação de 76 dos 122 leitos disponíveis, sendo 40 de retaguarda para o Instituto Dr. José Frota (IJF). O papel do Hospital, que tem repasse federal de R$ 27 milhões por mês, dentro da rede de assistência de Saúde, só será definido depois de hoje, quando será anunciado seu novo diretor.
Atuar no segmento de obstetrícia, principalmente em casos de alto risco. Esta sempre a principal missão, anunciada, do Hospital da Mulher, que daria suporte essencial às unidades que possuem maternidade no Estado.
Em 2012, o Ceará registrou o óbito de 114 mulheres, a maioria causada por complicações decorrentes de omissões, tratamento incorreto e outros eventos durante a gravidez, parto ou pós-parto. Conforme com dados da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), o acesso ao pré-natal aumentou entre 2005 e 2012, porém, o índice de 57% ainda é considerado muito baixo.
De acordo com o coordenador de Gestão Hospitalar da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Francisco Alencar, dentre os 20 leitos das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) adulta e neonatal, apenas um está vago. “Um, inclusive, foi direcionado para uma paciente do HGF [Hospital Geral de Fortaleza]”, destacou. Entre os 76 leitos ocupados na Enfermaria, 40 são direcionados a receber pacientes oriundos do IJF, que necessitam de atenção em traumatologia. Para eles, o IJF disponibiliza quatro médicos de trauma e três anestesistas, número que, conforme Alencar, deverá aumentar.
FUTURO AINDA INCERTO
No total, 127 médicos trabalham no Hospital, parte remanejada de outras unidades de Saúde do Município ou que complementam carga horária, o restante é oriundo de seleção pública. Os números exatos de cada perfil de contratação, entretanto, não foram repassados, assim como a quantidade exata de atendimentos e exames já realizados. Apesar da indefinição quanto ao papel do equipamento dentro da rede de assistência, o coordenador garantiu que o “direcionamento para a mulher nunca deixará de existir, pois elas somam 56% da população”.

As quase 10 especialidades médicas existentes ainda não são direcionadas para atendimento de urgência, como previa o projeto inicial do Hospital. De acordo com Alencar, ainda não há como afirmar se o local continuará sendo de “portas fechadas” ou mudará para “portas abertas”. “Encontramos o hospital funcionando de forma não convencional, sendo dirigido por um colegiado e a própria secretária de Saúde chegou a ser diretora. Vamos analisar os hospitais municipais, depois, estes junto a todos os públicos e, posteriormente, os públicos e os conveniados”, explicou o coordenador.
NECESSIDADE DA SAÚDE
“É lógico que precisamos de um hospital com este perfil. A sociedade preconizou o parto hospitalar, porém, não houve aumento no número de unidades hospitalares”, afirmou a médica ginecologista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Sílvia Bomfim. O impacto esperado para o Hospital da Mulher ainda não chegou, por exemplo, à Maternidade Escola Assis Chateubriand, onde Sílvia trabalha. “Trabalhamos sempre com excedente e vemos o sofrimento enorme das crianças que precisam de UTI Neonatal”, acrescentou a médica.

A necessidade de atenção à mulher começa, ainda, nos postos de saúde, onde, conforme Sílvia Bomfim, faltam equipamentos e profissionais. “O colposcópio [usado para rastrear câncer de colo do útero] que eu uso, no posto, tem pra lá de 15 anos de idade, assim como o esfigma [esfigmomanômetro], que mede pressão arterial, que tem mais ou menos a mesma idade”, exemplificou. De acordo com Sílvia, 80% dos problemas recorrentes às mulheres deveriam ser resolvidos nos postos, o que ainda não acontece.
ESTRUTURA DE, PELO MENOS, R$ 166 MILHÕES
- Hospital começou a receber pacientes, para consultas e internações, em agosto de 2012 e foi inaugurado, em dezembro, pela presidente Dilma Roussef;
- São mais de 26 mil metros quadrados de área construída, dividida em quatro blocos que abrigam consultórios, duas salas de cirurgias obstétricas e seis para cirurgia geral;
- Para exames, existem equipamentos de raio-x, esteira ergométrica, holter, eletroencefalografia, eletroneurografia, desintometria óssea, ultrassom, videioendoscopia e ressonância magnética;
- O laboratório de análises clínicas faz exames de hematologia, imunologia, congênitos, microbiologia, parasitologia, hormônios, tisiologia, bioquímica, uroanálise e agência transfusional de sangue;
- Dos recursos investidos até junho do ano passado, as obras do Hospital da Mulher recebeu R$ 88 milhões da Prefeitura e R$ 78 milhões do Governo Federal;
- Atualmente, o Ministério da Saúde repassa R$ 27 milhões por mês.

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