Elba Ramalho: “Chorei o morto errado”
A cantora fala do susto que levou quando viu que não era seu amigo quem estava no caixão
Ao chegar ao cemitério, vários seguranças vieram ao meu encontro. Diziam: ‘Ele está aqui’. O local estava lotado. Tinha muita gente. Não estranhei. Almir era uma pessoa muito querida pelos artistas. No caminho até o velório, fiquei procurando alguns outros músicos que, como eu, queriam se despedir. Não encontrei nenhum.
Quando entrei no velório, uma mulher loira veio em minha direção. Ela chorava muito e me abraçou. Disse que gostava muito de mim, de me ouvir cantar Ave Maria. Comecei a ficar encucada. Não reconheci a mulher, e eu sabia quem era a companheira de Almir. Ao me aproximar do caixão, vi que o falecido não era o Almir. Era outra pessoa.
Algumas mulheres vieram buscar os lírios que levara e começaram a jogar as flores em cima do morto – que, até então, não sabia quem era. O constrangimento só aumentava. Dizia para mim mesma: ‘Meu Deus, vim para o funeral errado’. Comecei a rezar uma ave-maria totalmente desconcentrada.
Olhava para o morto e pensava que não podia ser o Almir, que era mais jovem. Algumas ideias sem sentido começaram a surgir em minha cabeça, na tentativa de explicar o que estava acontecendo. Pensava: ‘Almir morreu com um tiro. Será que quem morre de tiro envelhece, e, por isso, não reconhecia o falecido?’.
De repente, surge um colega no meio da multidão, com quem tinha trabalhado havia pouco tempo. Ele dizia meu nome alto. Aí me dei conta de quem era o velório: de um artista também, do qual gosto muito. Aí tudo fez sentido.
Reconheci quem era a mulher que veio falar comigo logo que entrei na capela. Entendi por que os seguranças vieram logo me buscar. Na certa, outros artistas já tinham aparecido, e eles só repetiram o procedimento e me encaminharam para o mesmo local.
Apesar da confusão, gostei de ter ido. Aquela pessoa que tinha falecido era muito querida também. Fiquei feliz em ter enviado meus lírios para o Almir daquela maneira. Pensei que, se aquilo fosse um filme, o título seria: ‘Almir, recebe os lírios de D...!’.
Por causa do compromisso em São Paulo, saí da capela e fui direto para o aeroporto. Não pude ver o Almir. Quando entrei no carro, por mais drástica que a experiência tivesse sido, não pude conter uma crise de riso. Nunca mais fui a um velório sem ter certeza do local da cerimônia."
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