O material inédito foi apresentado na manhã de ontem, em Crato, na sede
do Geopark Araripe
A descoberta do único fóssil de
camarão no mundo, com características tridimensionais, na Bacia Sedimentar do
Araripe, tem sido destaque nos principais jornais do País, como O Globo e
Jornal Nacional, além de contar com a publicação em revista internacional
especializada. O material de mais de 100 milhões de anos, da era Cretácea, foi
apresentado na manhã de ontem, à imprensa, na sede do Geopark Araripe, por
estudiosos da Universidade Regional do Cariri (URCA).
O novo crustáceo fossilizado
recebeu o nome de Kellnerius jamacaruensis, em homenagem ao paleontólogo
Alexandre Kellner, e ao local onde foi localizado o fóssil, no distrito de
Jamacaru, na cidade de Missão Velha, no sul do Ceará. O material foi
apresentado pelo coordenador da maior escavação controlada do Nordeste,
iniciada em 2011, o Paleontólogo Álamo Feitosa, e a aluna do curso de Biologia
da Urca, que Caroline Mayara da Silva.
Com base
na caracterização da espécie, foi possível descrever um novo gênero da família
Carídea. Medindo 1,8 cm
de comprimento, o material foi encontrado depois de 11 dias de escavações, a 9,5 metros, em maio do
ano passado. O fóssil custou aos pesquisadores um trabalho detalhado e bastante
cuidadoso na preparação da rocha, para revelar a forma do camarão. Foram
utilizados equipamentos como uma lupa, para aumentar em até mais de 60 vezes o
tamanho do crustáceo e instrumentos delicados como uma agulha para a aplicação
de insulina. A caracterização foi realizada pelos pesquisadores Willian Santana
(SP), Allysson Pinheiro (URCA), Caroline Mayara da Silva (URCA) e Álamo Feitosa
(URCA) no Laboratório de Paleontologia da URCA.
A apresentação contou com a presença de parte da equipe de
20 pesquisadores, além do paleontólogo Alexander Kellner, a Reitora da Urca,
Professora Otonite Cortez, e o Vice-Reitor, Patrício Melo. Kellner destacou a
importância desse trabalho, desenvolvido por meio de estudiosos da própria
região. Ele tem sido um dos incentivadores desse processo de formação de um
núcleo de pesquisadores do Cariri. Também ressaltou que, antes, o material encontrado
na Bacia Sedimentar do Araripe era levado por estudiosos de outras localidades
e anunciado em seus centros de pesquisa. “Isso revela a autonomia da pesquisa
na região e um grande passo que está sendo dado nesse sentido”, disse o
cientista homenageado.
O trabalho das escavações continua este ano na cidade de
Campos Sales, depois do período das chuvas. Três grandes escavações deverão
acontecer na localidade. Essa descoberta recente, ocorreu na segunda grande
escavação, na parte leste da Bacia Sedimentar do Araripe. A primeira foi na
parte Oeste, no Município de Araripe.
Alex Kellner afirma que seria muito difícil conceber uma
descoberta desse nível, sem que houvesse uma escavação controlada. Nos
primeiros meses de escavações, foram encontrados dois fósseis também raros: uma
asa de um pterossauro, do tamanho de uma asa delta, e uma tartaruga, que ainda
está sendo descrita.
A pesquisa que vem
sendo realizada no Cariri, por meio da Urca e do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico Nacional (CNPq), com apoio do Geopark
Araripe, é responsável pela extração de mais de 6 mil peças. Uma das
evidências, com a nova peça encontrada, é que na região deveria ter pelo menos
lagos com certo nível de salinidade. “Digo sempre que, se a história da vida na
Terra fosse um livro, a Bacia do Araripe seria um capítulo inteiro. Há
documentação sobre a história da vida na região desde 400 milhões até 1 milhão
de anos”, disse Professor Álamo, em notícia de destaque no jornal O Globo. O
fóssil de camarão também fará parte de uma publicação na revista científica
‘Zootaxa’, da Nova Zelândia, cujos editores destacaram o caráter inédito do
material encontrado.
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