Desafeto de Dilma disputa liderança do PMDB


Seis deputados disputam a cadeira de líder do PMDB na Câmara. Um deles se chama Eduardo Cunha (RJ). Integra o grupo político do vice-presidente Michel Temer. Mas Dilma Rousseff não o digere. A simples audição do nome de Cunha causa-lhe engulhos. A presença dele na lista de pretendentes ao comando da bancada de deputados do sócio majoritário do seu condomínio partidário perturba-lhe o sono.
Ex-presidente da Telerj no governo governo de Fernando Collor e da Companhia Estadual de Habitação do Rio na gestão de Anthony Garotinho, Cunha tornou-se, sob Lula, um poderoso padrinho de nomeações em Furnas. Eleita, Dilma enxergou na estatal elétrica anormalidades eletrizantes. Desalojou a turma de Cunha. E deu abrigo a um protegido de Fernando Sarney, o gestor dos negócios da família de José Sarney.
Nessa época, Eduardo Cunha atribuiu a má vontade de Dilma à artilharia do PT do Rio. Absorveu o golpe e esboçou o troco: “É impressionante o instinto suicida desses caras. Quem com ferro fere com ferro será ferido.” Desde então, o Planalto segue os passos de Cunha na Câmara. Faz isso na tentativa de antecipar-se às armadilhas. Nem sempre consegue.
Trafegando à sombra, Cunha espanta as almas mais experientes. Numa entrevista de dezembro de 2009, Ciro Gomes (PSB-CE), então deputado, evocou-o para justificar seu desalatendo com a atividade legislativa. “Eu aqui nunca tive nada. Sou ex-prefeito, ex-governador, ex-ministro da Fazenda, ex-ministro da Integração Nacional, mas nunca tive nada aqui.”
Quem tem tudo, disse Ciro, é o arcebispo Eduardo Cunha. “Ele casa, descasa e faz batizado aqui. Qual a explicação para isso?” 
Numa intervenção feita no plenário da Câmara, Ciro dirigiu-se a Michel Temer, à época presidente da Casa, nos seguintes termos: “Feche a Câmara, presidente, e pergunte o que o Eduardo Cunha quer para o Brasil!”. Para Ciro, um desejo de Cunha corresponderá sempre a um desserviço à nação. Dilma parece concordar.
Os outros cinco pretendentes à liderança do PMDB são: Osmar Terra (RS), Marcelo Castro (PI), Sandro Mabel (GO), Danilo Forte (CE) e Manoel Júnior (PB). Excetuando-se o último, cujo histórico o Planalto ainda vasculha, há ressalvas da Presidência quanto a todos os demais.
Terra fez campanha contra Dilma em 2010. Votou no adversário tucano José Serra. Castro, acomodado numa lista de candidatos ao Ministério do Turismo na “faxina” de 2011, foi refugado pela presidente. Ela preferiu entregar o cargo a Gastão Vieira, deputado da banda de José Sarney. Mabel, cristão novo no PMDB, vem do PT, a legenda que Dilma varreu da pasta dos Transportes.
Quanto a Forte, o nome dele está gravado num relatório da Controladoria Geral da União. Na peça, a CGU apontou irregularidades na Funasa. Coisa de R$ 500 milhões. O órgão compõe a cota do PMDB no Ministério da Saúde. Foi gerido por Forte durante três anos. Nomeado em março de 2007, sob Lula, ele deixou a Funasa em abril de 2010, para disputar a cadeira que ocupa hoje na Câmara.
O relatório da CGU veio à luz em janeiro de 2011. Engloba um período que não se restringe à gestão de Forte. No pedaço que lhe diz respeito, o deputado negou os malfeitos. Porém, em 2008, o então ministro da Saúde José Gomes Temporão, do PMDB do governador fluminense Sérgio Cabral, pronunciara uma espécie de autodenúncia que seria corroborada no documento da CGU.
Com antecedência de quase três anos, Temporão dissera que havia “corrupção” e “baixa qualidade” nos serviços prestados pela Funasa. Queria demitir Danilo Forte. Por pouco não foi, ele próprio, apartado da cadeira de ministro. Na virada de Lula para Dilma, Cabral esboçou apoio à permanência de Temporão na Saúde. O PMDB deixou-o falando sozinho.
Os candidatos ao comando da bancada do PMDB foram à pista porque Henrique Eduardo Alves, líder atual, decidiu disputar a presidência da Câmara. A candidatura dele foi formalizada em reunião da bancada realizada nesta quarta-feira (28). Há coisa de dez dias, os pretendentes ao posto de líder levaram a Henrique uma proposta com cheiro de macumba.
Queriam antecipar a sucessão na liderança para 19 de dezembro. Alegava-se que, eleito presidente, Henrique imporia um líder da sua predileção. Henrique chiou. E o despacho foi desmontado. Marcou-se a eleição do novo mandachuva da bancada para 30 de janeiro de 2013, antevéspera da eleição do sucessor de Marco Maia (PT-RS).
A cúpula do PMDB espera que, até lá, restem apenas dois postulantes à liderança. Trabalha-se com a perspectiva de que, para evitar a escolha de um líder minoritário, os candidatos terminarão organizando-se sob dois guardachuvas. Da trinca Danilo Forte, Manoel Júnior e Osmar Terra emergiria um candidato. Da tróica Eduardo Cunha, Sandro Mabel e Marcelo Castro sairia o outro.
O Planalto torce para que o mexe e remexe não resulte na escolha de um líder tóxico. Entre todos, o mais temido é Eduardo Cunha. Em privado, os amigos dizem acreditar que o deputado acabará sendo convencido de que botar a cara na vitrine pode não ser, no seu caso, um bom negócio. Permanecendo na sombra, seu habitat natural, teria melhores condições de armar suas surpresas e emboscadas.
Do blog do josias

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