De repente, relator da CPI diz que jornalistas e Gurgel são ‘secundários’ e podem sair do texto

Um dia depois de ser desautorizado pelo seu próprio partido, o relator petista da CPI do Cachoeira, Odair Cunha (MG), passou a considerar “secundário” o que antes julgava “essencial”. Numa derradeira e desesperada tentativa de salvar seu relatório, ele admite retirar do texto o pedido de indiciamento de cinco jornalistas e o requerimento de investigação contra o procurador-geral da República Roberto Gurgel.
“Se os partidos se comprometeram a aprovar o essencial, estou disposto a retirar o secundário. O encaminhamento do procurador-geral para o Conselho [Nacional do Ministério Público] e o indiciamento dos jornalistas é irrelevante. Não é uma questão central. Se o procurador e os jornalistas são elementos que criam obstáculos à aprovação do relatório, abro mão deles”, disse um agora contemporizador Odair.
O vaivém do relator talvez tenha chegado tarde demais. Mesmo com os acenos de ajustes, legendas do condomínio governista, o PMDB à frente, continuam predispostas a apagar no voto o texto de 5 mil páginas de Odair. Afora a derrapagem de sugerir indiciamento e investigação contra personagens que a CPI sequer interrogou, o relator incluiu outros tópicos que os “aliados”combatem à sombra.
Por exemplo: ninguém se anima a declarar diante dos holofotes, mas muitos se opõem à sugestão de indicamento do empreiteiro Fernando Cavendish, da Delta. Nesse ponto, a resistência escora-se em interesses inconfessáveis. De resto, a criminalização do governador tucano de Goiás Marconi Perillo ateou nos partidos um desconforto que ultrapassa as fronteiras do PSDB.
Primeiro porque Odair vergastou Perillo e poupou o governador petista de Brasília Agnelo Queiroz. Segundo porque um pedaço expressiva da CPI acha que, ao levar o executive goiano ao peloruinho, Odair abre uma fenda que pode sugar a reputação de outros governadores em CPIs futuras.
“A questão é que quando se coloca apenas Perillo no relatório, alguns acreditam que está se politizando. Também acham que a CPI não pode investigar governadores para não abrir precedente” disse, sem meias palavras, o deputado Maurício Quintela Lessa (AL), que representa o PR na CPI.
Lessa e outros governistas participaram de reunião com Odair nesta terça (27). No encontro, os pseudoaliados do PT sugeriram que a votação do relatório, prevista para esta quarta (28), seja adiada. Se a ideia prosperar, será o terceiro adiamento. Uma evidência de que o texto de Odair, a despeito dos recuos do autor, ainda não desceu do telhado.

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