FHC sobre fenômeno Russomanno: polarização entre o PSDB e o PT ‘levou à fadiga de material’

Se os roteiristas da crônica eleitoral de São Paulo fossem escrever uma novela joje, o personagem principal seria Celso Russomanno. Associados às candidaturas de José Serra e de Fernando Haddad, tucanos e petistas olham ao redor atônitos. Destilam a suspeita de que, num desafio a Darwin, o eleitor paulistano parou de evoluir. Pior: já está voltando.
Contra esse pano de fundo tisnado pela perplexidade, o grão-tucano Fernando Henrique Cardoso veio à boca do palco para teorizar sobre o inexplicável. Em conversa com o repórter Gabriel Manzano, disse que a velha polarização entre PSDB e PT produziu em São Paulo “uma fadiga de material”.
A essa “fadiga”, disse FHC, soma-se “um pouco de cansaço do eleitorado com a predominância do PSDB por longo tempo.” Em 2014, o tucanato completa 20 anos de poder no Estado. Na capital, somando-se a parceria com o atual prefeito Gilberto Kassab (PSD), a hegemonia é de oito anos.
Talvez por delicadeza, FHC evitar associar o “cansaço eleitoral” à queda do amigo Serra nas pesquisas. O que se verifica, segundo ele, “é que o Russomanno subiu. Os outros estão praticamente no mesmo lugar”. Quanto a Serra, “ele já tinha caído antes, mas parou, se estabilizou em outro patamar.”
Para FHC, a exclusão de Serra do segundo turno da eleição ainda não é um dado da realidade. Acha que o diagnóstico de “fadiga de material” ainda “não assegura nada sobre o que vai acontecer até o dia das eleições.” Avalia que a fase decisiva do jogo ainda não foi jogada. “Vai se darn as semanas finais”.
Como receita para a sobrevivência de Serra na disputa, FHC sugere “a reafirmação corajosa de suas teses e a defesa de valores, defender o que fizemos”. Acha que, com essa fórmula, o candidato chega ao segundo turno, o que considera “fundamental.”
Refere-se ao discurso do “novo” esgrimido pelos antagonistas com uma ponta de desdém. “O Russomanno, de novo, não tem nada. É candidato há muito tempo.” Credita o sucesso do rival nas pesquisas ao fato de ele ainda não estar “classificado entre os grandes.”
Aí está a suprema ironia: egresso do PP de Paulo Maluf, Russomanno submete os “grandes” do PSDB e do PT a um inesperado suadouro com menos tempo de propaganda na tevê, cavalgando o nanico PRB. Se prevalecer no final da novela, revelará não uma “fadiga”, mas uma falência generalizada de material.
Do Josias de Souza

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