Opinião


MAIS TEMIDA DO QUE AMADA

Por Carlos Chagas


                                                        Em entrevista ao New York Times,  no fim de semana,  o  Lula reafirmou que não disputará a sucessão de 2014. Apoiará a reeleição de Dilma Rousseff.   Que a atual presidente da República, hoje, é candidatíssima, ninguém duvida, apesar de nenhuma palavra ela ter avançado a respeito. Mesmo  nesses primeiros dois anos de mandato sua popularidade tendo  ultrapassado os percentuais do    antecessor, em igual período,  importa reconhecer a diversidade de   situações. E de personalidades.    Dilma é popular, mas não é querida. É mais temida do que amada. Recebe apoio nacional porque  faz o dever de casa. Mas parece não perceber que nem tudo resume-se à sala de aula: o recreio também  faz parte da rotina escolar.  Ela impõe respeito, até   mais do que o Lula,  ao não fazer concessões fisiológicas,  senão as obrigatórias,  aos partidos e instituições  que a apóiam.   Por isso, abre  distância perigosa em  suas bases políticas e   partidárias, acontecendo o mesmo com os grupos sociais dispostos ao seu redor  e até com o eleitorado.  Seu modo  áspero de ser,  sua rispidez no trato com os interlocutores, até com  seus  próprios auxiliares, a cortina-de-ferro com que preserva  a intimidade, sem abrir a guarda para a vida privada, para  preferências e até  manias, para o seu lado humano, enfim  – tudo vai  caracterizando  um vazio capaz de estimular o anseio por mudanças. 
                                               Dilma está mais para Ernesto Geisel do que para Juscelino Kubitschek, sem falar no Lula. Ignora-se se João Santana anda preparando algum projeto de humanização da presidente,   imprescindível para a disputa futura,   bem diferente da verificada em 2010, quando ela veio, viu e venceu exclusivamente por ser  indicada pelo chefe. Precisará de apoio em suas próprias forças, impossíveis de permanecer  limitadas apenas por sua capacidade gerencial, sua honestidade e sua carranca.
                                               Cumprir  obrigações funcionais e administrativas,   mesmo de forma incontestável,   não bastará  para Dilma livrar-se da imagem da Madre Superiora, sempre mantendo as freirinhas em sobressalto.  Os muros  do convento     podem  ocultar a brecha onde  os  adversários pretenderão infiltrar-se.   
                                               A começar por boa parte do PT, frustrados muitos  companheiros por não terem conseguido ocupar o governo como imaginaram, numa espécie de condomínio onde exerceriam o poder.  Poderão criar empecilhos, como já demonstram na campanha do “volta, Lula!”   Do mesmo modo, há que precaver-se com os aliados, entre os quais  desponta Eduardo Campos,  com muita ambição e alguma estratégia. O PMDB, sempre inconfiável, permanece no  balcão de negócios, de onde sempre poderá exigir mais para continuar no jogo. Ou sair.  Do PTB, PR, PP, PDT e penduricalhos,  será bom confiar desconfiando.  O que dizer dos tucanos, ainda que batendo bicos e perdendo  penas,  mas atentos para o fato de que seu plano de vôo passa pela humanização do  governo?
                                               Numa palavra, deve cuidar-se a presidente Dilma, se seus planos coincidem com os anunciados pelo Lula. O primeiro-companheiro ainda desempenhará  papel de grande eleitor, mas bem menor  do que há dois anos. Torna-se necessário  a  candidata   retificar parte do seu  curso, quebrar barreiras e mostrar-se  mais amena, sem precisar ficar  beijando criancinhas em cada esquina.      São múltiplas as motivações que conduzem o eleitorado a se definir. Uma delas chama-se alegria...       

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