No meio do caminho havia uma triste lembrança

Em 1982, numa terrível seca sobre o Ceará, fiz a primeira primeira reportagem de televisão. Foi pra TV Verdes Mares. A reportagem foi parar no Jornal Nacional,no outro dia no Fantástico, na segunda feira no Bom Dia Brasil.
Tonto, entendia que era a reportagem que era forte. As imagens incríveis, feitas pelo cinegrafista Igino Pereira, falavam mais que meu pobre  texto de neófito no meio. Tantos anos de imprensa e as lágrimas rolaram rosto abaixo.
Birrada, meu personagem central da reportagem, contava na parede daquele açude seco, no sertão brabo de Irauçuba, que seu cavalo pedia água à noite, batendo à porta de sua casa humilde. Não consegui terminar a reportagem como queria, mas parei ali entendendo que aquilo bastava. E bastou.
A Rede Globo mandou o saudoso reporter Paulo Cesar de Araujo ao Ceará fazer um Globo Repórter a partir daquela reportagem e PC passou uma semana convivendo com Birrada e a seca. Jamais isso saiu na minha memória.
Hoje, perto do meio dia, a bordo de um pequeno avião que me levava a Sobral, sobrevoei Irauçuba e lá do alto fotografei o açude. Outra vez vazio, outra vez na seca, outra vez fazendo novos Birradas choraremm, ou  quem sabe o próprio tambem consiga viver com essa lembrança.
É um registro doído e sofrido que faço. Minhas andanças pelos salões dourados do mundo, não conseguem fazer de mim mais que aquele repórter iniciante de um órgão novo, naquele instante. E faço isso pra que os Governantes de hoje saibam que, de lá pra cá, não mudaram em nada do passado miserável do povo de Irauçuba.
E não peço desculpas pela dor que sinto.

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