Senado dá uma pernada em Dilma


Em decisão inusual, o plenário do Senado rejeitou a recondução de Bernardo Figueiredo para a presidência da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Indicação pessoal de Dilma Rousseff, o nome caiu por maioria de votos. Votação apertada: 36 contra, 31 a favor, uma abstenção.
Conforme prevê o regimento, a votação foi secreta. A despeito do sigilo, vários senadores fizeram questão de escalar a tribuna para expor suas restrições a Bernardo Figueiredo. Um nome que vinha sendo combatido há semanas pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR).
Requião reiterou na sessão desta quarta seu ponto de vista. Disse que a gestão de Bernardo na ANTT, tisnada pela nódoa da suspeição, o descredencia para o exercício do cargo. Leu da tribuna relatório em que o TCU aponta indícios de irregularidades na agência.
Relator da mensagem de Dilma, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) trocou farpas com Requião. Declarou que o documento lido pelo colega era de 2007. Relataria fatos anteriores à chegada de Bernardo na ANTT.
Requião manteve o verbo em riste. Acusou Lindbergh de “faltar com a verdade”. O senador pemedebê foi ecoado por representantes da oposição. Ficou claro que PSDB, DEM e PSOL votariam contra o nome sugerido por Dilma.
O bloco oposicionista, por minoritário, não teria como impor a derrota ao governo. Deve-se o infortúnio a um misto de desmobilização e descontentamento da tropa do Planalto. Num colegiado de 81 senadores, foram ao placar eletrônico do Senado apenas 68 votos.
Requião não foi o único senador de legenda governista a votar contra Bernardo por convicção. Pedro Taques (PDT-MT) fez questão de abrir o voto. Recordou em discurso que a agência reguladora do setor de transportes é alvo de investigação do Ministério Público. Disse que Bernardo é “inconpetente e não tem idoneidade para exercer o cargo”.
Líder de Dilma no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) viu-se compelido a reconhecer que algo de anormal se passa no consórcio governista: “Foi um posicionamento político de pessoas que estão insatisfeitas. O governo vai avaliar o que fazer. Existem insatisfações em vários partidos que foram manifestadas no voto secreto. A gente tem que entender o recado, aprofundar as relações políticas e acabar com as defecções.”
As circunstâncias potencializam a derrota. Bernardo Figueiredo é personagem de confiança de Dilma. Foi assessor dela na época em que ocupava a chefia do Gabinete Civil de Lula. Na ANTT, Bernardo tinha como missão viabilizar um projeto que a presidente considera prioritário: o trem-bala Campinas-São Paulo-Rio.

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