Outro dia Ferreira Gullar escreveu sobre o acaso na construção poética. Um trecho: "Além de o poema não dizer tudo o que o poeta deseja dizer, não sabe, ao começá-lo, o que vai dizer, porque, para sabê-lo, seria necessário que o poema já estivesse escrito. Assim, tudo o que há, então, é o desejo de dizer algo que o poeta não sabe o que será: está diante de uma página em branco e, portanto, aberto a todas as possibilidades. Mas, ao escrever a primeira palavra, a probabilidade, que era quase infinita, diminui, porque essa primeira palavra já condiciona a seguinte, tornando-a, por assim dizer, necessária. E assim, palavra a palavra, o poema vai nascendo, num jogo de acaso e necessidade".
Foi aí que me lembrei de um poema que escrevi há uns três anos, este que envio agora. Se alguém aí tiver o e-mail do Gullar, por gentileza, repasse. Gostaria muito de saber a opinião dele a respeito.
E assim, retomamos, depois de um longo e preguiçoso inverno, os textos deste "Toda Poesia".
Um abraço.
Un coup de dés jamais nabolira le hasard
Escrevo
pra saber o que dizer,
na esperança,
acredito,
de que o galope das palavras
dirá
o a ser dito.
Não colho palavras: cavo.
E não me iludo, por inútil.
Assim, sem rumo,
no escuro,
apenas escancaro a porta.
E que o verbo
ache seu prumo.
Nada disso, minto:
palavra alguma revela
exatamente o que sinto.
Sem pretender a clareza,
escrevo na claridade,
pois as palavras mais claras
são de todas as melhores
pra esconder a verdade.
Penso eu - Paulo José Cunha é repórter, jornalista, escritor, produtor independente de tv, radio e jornal, poeta e um grande bom caráter. E mais;é meu amigo.
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