Brasilia está pegando fogo


Menos de uma semana depois de ter sido nomeado líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM) recebeu sua primeira missão espinhosa. Tenta evitar que os sete senadores do PR, “rompidos” com o Planalto desde a semana passada, viabilizem a primeira CPI da Era Dilma Rousseff.
Nesta segunda (19), Álvaro Dias (PR), líder do PSDB, ressuscitou um pedido de CPI formulado no ano passado. Destina-se a investigar a corrupção na aplicação das verbas federais da Saúde. Para ficar em pé, o requerimento depende apenas das assinaturas dos senadores do PR.
Ao farejar o cheiro de queimado, Eduardo Braga apressou-se em pedir uma audiência com o colega tucano. Na conversa, argumentou contra a abertura da investigação legislativa. Alegou que a CPI pode incendiar o Senado, conspurcando o funcionamento da Casa.
Alheio aos apelos, Álvaro programou-se para procurar, nesta terça (20), os senadores Blairo Maggi (MT) e Alfredo Nascimento (AM), respectivamente líder e presidente do PR. Vai pedir a adesão do partido à CPI.
Será o primeiro teste à seriedade do alegado “rompimento” do PR com o governo. O partido declarou-se “em oposição” na semana passada, depois de ter sido informado de que não teria de volta o Ministério dos Transportes.
O pedido de CPI da Saúde havia sido formulado em abril de 2011, nas pegadas de uma auditoria do TCU. Numa inspeção feita sobre 2,5% das verbas liberadas pelo Ministério da Saúde entre 2007 e 2009, destectaram-se desvios de mais de R$ 600 milhões.
Para reforçar o pedido, Álvaro Dias adicionou aos achados do TCU os fatos revelados neste domingo (18) em reportagem do ‘Fantástico’. O programa da TV Globo levou ao ar apuração que consumiu dois anos de trabalho.
Autorizado pela direção do Hospital Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um repórter fez-se passar por chefe do setor de compras. Nessa função, abriu licitações para a aquisição emergencial de produtos e serviços.
Sem saber que estavam sendo filmados, representantes de quatro empresas ofereceram propina ao falso chefe de compras para vencer as licitações. As ofertas, explícitas e por vezes debochadas, resultaram em cenas chocantes. Antes de reunir-se com Álvaro Dias, Eduardo Braga dissera, no plenário, que cabe aos órgãos de controle do governo agir contra os malfeitos.
Na origem, a oposição planejara abrir uma CPI mista, com deputados e senadores. No Senado, são necessárias 27 assinaturas, já coletadas. Na Câmara, exige-se um mínimo de 171 rubricas, ainda não atingido.
Agora, aproveitando-se da rebelião do PR, o tucanato decidiu concentrar-se no Senado. Supondo-se que os sete senadores rebeldes acomodem seus jamegões no requerimento de CPI, o número de adesões sobe para 34.
Desse modo, o governo teria maiores dificuldades para pressionar aliados a retirarem assinaturas do pedido de CPI. Daí a movimentação preventiva de Eduardo Braga.

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