PARIS. Carla Bruni-Sarkozy é dessas poucas mulheres que conseguem atrair todos os olhares por onde passa. Que o diga o marido e presidente francês, Nicolas Sarkozy: a ex-modelo de pele impecável, dentes bem alinhados, pernas longas e olhos azuis é sucesso garantido nas ruas. Pelo menos fora da França.
No país, a Bruni exuberante que posou nua e namorou estrelas do showbizz no passado não se encaixa no protocolo da Presidência francesa. Muito menos na mentalidade do eleitorado conservador de Sarkozy. Então, veio a transformação: a dois meses das eleições presidenciais em que seu marido corre o sério risco de ser derrotado, foi uma primeira-dama de calça larga preta, suéter cinza, sentada com os pés numa meia preta em cima do sofá, que recebeu a TV Magazine para uma entrevista exclusiva sobre… seus programas de televisão favoritos.
E a entrevista prossegue assim, com uma sessão de fotos em que, entre outras, ela aparece sentada num banquinho, com a televisão entre as pernas:
— De que programa de TV você gostaria de participar um dia? — perguntou o jornalista.
Ela não hesitou.
— “Encontro em terra desconhecida”. Adorei o episódio com Charlotte de Turckheim na Sibéria. Frédéric Lopex estava perfeito no seu papel. Sonho em participar! Disse isso ao meu marido, que levantou as sobrancelhas de surpresa — contou.
E a transformação de Carla Bruni está aí: não é mais a filha de uma rica família italiana que canta e esbanja beleza e glamour nos vestidos da moda, mas uma mulher de presidente bem mais apagada do que quando primeiro pisou no Palácio do Eliseu; que agora posa de dona de casa, contando que se distrai assistindo à televisão como todo mundo. Para o cientista político Arnaud Mercier, professor de Comunicação Política da Universidade de Lorraine, a mudança não é por acaso.
Mercier diz que as imagens de Sarkozy no início do namoro vestido num jeans, de camisa descontraída e óculos escuros no Egito ao lado da glamourosa modelo — e ainda carregando o filho pequeno dela nos ombros — foi a gota d’água para muitos eleitores tradicionais.
— Muitos ficaram chocados. As primeiras fotos pareciam uma Disneylândia; não era sério. Disseram que não era digno de um presidente da República — afirma Mercier.
Franceses não gostam do que chamam de “people” — exibição no estilo showbizz americano. Estudos junto ao eleitorado mostraram que isso afetou a credibilidade do presidente, irritando sobretudo o eleitorado mais velho e conservador, que foi quem mais votou em Sarkozy. Outra imagem dessa época que nunca mais se reproduziu foi o presidente recém-eleito, suado, subindo as escadarias do Eliseu com roupa de corrida.
— Nicolas Sarkozy percebeu que precisava tomar cuidado. O que pensou que seria uma vantagem a mais na sua imagem, de se apresentar com uma manequim-vedete, se voltou contra ele. E o Palácio do Eliseu reenquadrou a coisa — explicou o professor.
A transformação da imagem de Carla Bruni, portanto, se explica por isso. A top model que posou em 2008 para a revista “Vanity Fair” no palácio presidencial com um vestido vermelho de baile, aparece agora no jornal gratuito distribuído no metrô , o “20 Minutes”, sem maquiagem, cabelo preso e um cardigan marrom, dizendo que vai ficar 100% ao lado do marido na campanha eleitoral. Parte da transformação, segundo Mercier, veio da Presidência. Mas outra parte veio da própria Carla Bruni: ela não gostou de ver seu filho no meio dos paparazzi no início do namoro com Sarkozy e anunciou, desta vez, que não mostraria sua recém-nascida filha Giulia. Dito e feito: os franceses não conhecem a menina.
O último episódio envolvendo o casal corre o risco de resultar em demissão. Um técnico da TF1 — uma das principais redes de televisão francesas — vazou para a internet as imagens de Sarkozy tendo sua roupa ajeitada e sendo beijado pela mulher, segundos antes de entrar ao ar vivo no jornal da emissora para anunciar, no último dia 15, que é candidato à reeleição. O Palácio não gostou.
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