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É fantástico: ‘Minha base, é feita de pessoas de bem’

Roberto Stuckert Filho/PR

Em entrevista ao ‘Fantástico’, Dilma Rousseff fez declarações dignas do nome da atração. Pintou um mundo que só existe na fantasia oficial.

Gerente de um condomínio 99% feito de pessoas de bens, Dilma disse: “A minha base aliada é composta de pessoas de bem.”

Refugou a tese segundo a qual é “refém” dos aliados. “Nós temos uma discussão de alto nível com a nossa base.”

Como o grosso das conversas gira em torno de cargos e verbas, de duas uma: ou Dilma capricha na imaginação ou mandou rebaixar o pé-direito do seu gabinete.

Como controlar o toma-á-dá-cá?, perguntou Patrícia Poeta a essa Dilma romancista. E ela: “Você me dá um exemplo do ‘da cá’ que eu te explico o ‘toma lá’.”

Antes que a entrevistadora esboçasse reação, Dilma deu-lhe um tapinha no braço: “Estou brincando contigo… Não dei nada a ninguém que eu não quisesse.”

Ao esmiuçar o raciocínio, Dilma fez uma rara concessão à realidade. Como que desmentindo sua versão ficcionista, admitiu-se refém:

“Nós montamos um governo de composição. Caso ele não seja um governo de composição, nós não conseguimos governar.”

É verdade que distribui broncas aos auxiliares? “Olha, a bronca faz parte e é uma bronca meiga.”

Como assim? “Isso não está certo, não pode ser assim.” A entrevistadora estranha: Nesse tom?” E Dilma: “Ah, é, é esse tom. Não está certo e não pode ser assim.”

Por sorte, Dilma é autora de ficção, não personagem. Se fosse o boneco entalhado na madeira pelo velho Geppetto, nessa hora seu nariz cresceria além do imaginável.

A fama de durona? “Ossos do ofício.” Algo tão “intrínseco à condição de presidente” quanto o zelo “para que o dinheiro público seja bem gasto.”

O lero-lero tornou-se ainda mais fantástico quando a conversa enveredou para a “faxina”. Dilma repisou: “Eu acho a palavra faxina errada.”

Tentou explicar-se: “Faxina você faz às 6h da manhã, e às 8h, ela acabou. Atividade de controle do gasto público, na atividade presidencial, jamais se encerra.”

Como explicar a corrupção dos oito anos de Lula e oito meses de Dilma?

“Minha querida… Você não acaba com a corrupção de uma vez por todas. Você torna ela cada vez mais difícil.”

No mundo que pulsa fora da entrevista fantástica, a “dificuldade” levou às facilidade$ que desaguaram no mensalão.

Depois, gente como Valdemar Costa Neto (PR-SP), réu do escândalo velho, vira protagonista dos negócios da pasta dos Transportes, o escândalo seminovo.

A certa altura, Dilma disse que “tem de ter muito cuidado no Brasil para a gente não demonizar a política.”

Acha que “não é possível que a gente chegue e diga o seguinte: ‘Olha, todos os políticos são pessoas ruins’. Não é possível isso no Brasil.”

De fato, como em qualquer outra atividade, há pessoas boas na política. O diabo é que os 99% que integram a banda podre dão ao 1% restante uma péssima fama.

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