Exemplo de humildade e bom caráter

Ronaldinho, R$ 1,3 milhão por mês, descansa na classe econômica


MARTÍN FERNANDEZ
ENVIADO ESPECIAL A CÓRDOBA

Segunda-feira, quase 13h, Ronaldinho e outros oito jogadores da seleção descem do ônibus que liga o terminal de passageiros do Aeroparque Jorge Newberry ao Embraer 190 da Aerolíneas Argentinas, parado no portão 7.

Chegaram a Buenos Aires num voo que partiu do Rio às 6h35. O destino é Córdoba, onde dois dias depois o Brasil vai enfrentar a Argentina.

Todos entram tranquilamente no avião, menos um. Ronaldinho para, faz foto com o fã argentino, faz duas, quatro, oito, dez fotos. Sorri, mas não muito, as mãos para baixo --abraço, só quando o outro personagem da foto é mulher.

No avião, enquanto os companheiros se ajeitam, continua de pé, procurando um lugar para a mala preta, da Nike, bem maior que as dos demais.

Um funcionário da Aerolíneas se apressa para empilhar casacos e pastas de outros passageiros para acomodar a bagagem do astro. Ronaldinho agradece em espanhol.
Quem o nota liga para amigos, parentes. "Sabe quem está no avião comigo? Ronaldingo. 'Increíble'."

Os mais ousados pedem fotos, ele topa todas. Um passageiro percebe que a poltrona do Gaúcho não reclina e se oferece para trocar. O jogador agradece e recusa o agrado, o fã insiste até conseguir.

Sem manusear um celular, sem fones de ouvido gigantes, com uma boina preta virada para trás e óculos escuros, Ronaldinho desaba na poltrona 12B, exatamente ao lado o repórter da Folha --não há troca de palavras.

Por uma hora e dez minutos, Ronaldinho dorme, a cabeça caída, as pernas meio encolhidas, o incômodo é visível, o desconforto típico da classe econômica.

Chega uma caixa de papelão com sanduíche frio, suco de frutas e uma bala de doce de leite, que ficaria ali, ignorada, até ser recolhida quando o avião já descia.

Nem a sacolejante aterrissagem perturba o sono do jogador, duas vezes melhor do mundo, salário estimado em cerca de R$ 1,3 milhão.

Ronaldinho havia jogado na noite anterior pelo Flamengo, contra o Atlético-PR --mais uma atuação fraquíssima de seu time, derrotado pela quarta vez seguida, oito jogos sem vencer no Campeonato Brasileiro.

O camisa 10 só acorda quando metade dos passageiros já deixou o avião. De um pulo, recolhe a mala e sai. No caminho até a van que esperava os jogadores, para para mais algumas fotos --não recusa uma, abraça a garota com uniforme da equipe de limpeza do aeroporto.

Duas horas depois, está no gramado do estádio Mario Kempes, para um rápido treino físico, um "regenerativo", na linguagem do futebol. Quarta-feira, 21h50, será a maior atração de Argentina x Brasil.

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