A paisagem, dizia Nelson Rodrigues, é um hábito visual. Só começa a existir depois de 1.500 olhares.
Na Venezuela, a paisagem resume-se a Hugo Chávez, única palmeira no gramado. O vice, Elias Jaua, é invisível.
Neste sábado, a Assembléia Nacional venezuelana aprovou o pedido de Chávez para ausentar-se do país. Vai fazer quimioterapia em Cuba.
Informara-se que viria tratar-se em São Paulo. No fim das contas, preferiu a confidencialidade de Havana aos boletins médicos do Sírio-Libanês.
Não se sabe quanto tempo Chávez ficará fora: "Espero que não sejaum período muito longo", limita-se a dizer.
A despeito disso, não vai transferir formalmente o poder ao vice. Sob protestos da oposição, diz que governará à distância.
Dessa vez, porém, avançou um milímetro em relação aos procedimentos adotados no mês passado, quando foi operado em Havana.
Chávez agora delegou algumas atribuições ao vice. Entre elas: expropriar bens, comprar divisas e nomear vice-ministros.
Considerando-se o apreço do autocrata venezuelano pelo poder absoluto, o gesto espanta pelo inusitado.
Ainda assim, a paisagem de Caracas continua resumida a Chávez. O câncer alterou-lhe o itinerário. Mas ele não abre mão de ficar ao volante.
Há agora quatro poderes na Venezuela. O Executivo, comandado por Chávez; o Legislativo, rendido a Chávez; o Judiciário, submetido a Chávez…
…E o Poder do vácuo, que, sujeito a variáveis que Chávez não controla, pode levar à impotência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário