Centenário - Debaixo deste Juazeiro, trabalho e fé




Juazeiro do Norte é um município do Ceará. Graças à figura de Padre Cícero, é considerado um dos maiores centros de religiosidade popular da América Latina, atraindo milhões de romeiros todos os anos. O município localiza-se na Região Metropolitana do Cariri, ao sul do Estado, a 514 km da capital, Fortaleza. Sua área é de 248.558 km². A população do município é estimada em 249.936 habitantes, que o torna o terceiro mais populoso do Ceará, o maior do interior cearense e a centésimo maior do Brasil. A taxa de urbanização é de 95,3%.

Seria simples assim falar de Juazeiro se não fosse o Juazeiro do Padre Cícero, um lugar nascido da inspiração de um padre de interior, com uma visão de mundo e instrumentos capazes de mover montanhas: o trabalho e a fé. Sua história remete-nos à coragem dos que lutaram por sua emancipação e ao desempenho do grupo político que, sob as vistas severas de “Meu Padim”, fizeram da Vila de Tabuleiro Grande um dos maiores centros de romaria religiosa da América Latina.

O começo
Juazeiro do Norte era, inicialmente, distrito da cidade vizinha Crato, até que o jovem Padre Cícero Romão Batista resolveu fixar-se como pároco no lugarejo, até então sem capelão e, portanto, sem os serviços religiosos. Padre Cícero foi um dos responsáveis, tempos depois, pela emancipação e independência da cidade. Por conta do chamado “milagre de Juazeiro” (quando Padre Cícero deu a hóstia sagrada à beata Maria de Araújo, a hóstia se transformou em sangue), a figura do padre assumiu características místicas e passou a ser venerado pelo povo como um santo. Hoje a cidade é a segunda do Estado e referência no Nordeste graças ao Padre.

Quando ainda era uma Vila pertencente ao Crato, Juazeiro chamava-se Tabuleiro Grande e não passava de um aglomerado de casas de taipa e algumas de tijolos convergindo para uma capela dedicada à Nossa Senhora das Dores. A Vila era um mero entreposto e servia de ponto de apoio para aqueles que se dirigiam para o Crato.

No Natal de 1871, Padre Cícero recebeu o convite para rezar a Missa do Galo no lugarejo. Era para ser apenas uma celebração, mas em 11 de abril de 1872, o Padre retornaria a Tabuleiro Grande acompanhado de alguns familiares para fixar-se na vila. Segundo o próprio Padre, a decisão decorreu de um sonho, onde viu Jesus Cristo e os doze Apóstolos sentados a uma mesa, em seguida, uma multidão de peregrinos marcados pela fome e pela dor adentra no local, então Jesus Cristo diz estar decepcionado com a humanidade, mas que está disposto a fazer um último sacrifício para salvar o mundo, então se vira para o Padre e ordena: “E você, Padre Cícero, tome conta deles”.

Com o lema “cada casa uma oficina, cada oficina um oratório”, logo que chegou, o sacerdote tratou de mudar os costumes profanos do local e tornar comum a prática dos sacramentos. Inspirado por Padre Ibiapina, Padre Cícero criou as Casas de Caridade, organizações tocadas por beatas e que visavam a levar Educação, Saúde e auxílio religioso ao povo. As Casas de Caridade espalharam-se pelo entorno de Juazeiro, sendo a mais famosa delas situada no Sítio Caldeirão sob o comando do beato José Lourenço. Inúmeras oficinas foram criadas, com destaque para as de produção de velas, imagens sacras e calçados. O jeito simples e carismático do Padre contagiava a população que cada vez mais se entregava à religião e ao trabalho.

O milagre da hóstia
Durante uma missa, em 6 de março de 1889, Padre Cícero ministrava a comunhão aos fiéis, quando ministrou o sacramento à beata Maria de Araújo a hóstia transformou-se em sangue. O fato teria se repetido diversas vezes durante cerca de dois anos. A população logo atribuiu ser um milagre. Padre Cícero, cauteloso, pediu à Diocese que enviasse uma comissão para investigar o fenômeno e pediu aos fiéis que não comentassem a respeito do mesmo, porém este pedido foi em vão, visto que a notícia logo se espalhou por toda a região Nordeste e em uma rapidez extraordinária chegou ao Sul do País. A comissão era formada pelo Marcos Rodrigues Madeira (médico do Rio de Janeiro), Ildefonso Correia Lima (médico e professor da Faculdade do Rio de Janeiro), Joaquim Secundo Chaves (farmacêutico), e diversos padres da região.

Após longos estudos, inclusive podendo testemunhar o fenômeno da transformação por diversas vezes, a comissão concluiu que o “facto da ordem dos observados não pode ser explicado pelo jogo natural dos agentes naturais, sendo forçoso aceitar a intervenção de um agente inteligente occulto que represente a causa, o qual, no caso em questão, acredito em ser Deus” (trecho de carta escrita por Ildefonso Correia Lima e reconhecida a letra em firma pelo Cartório do Crato).

Apesar de a comissão provar que não existia explicação para o fenômeno, o bispo Dom Joaquim enviou uma segunda comissão liderada pelos padres Alexandrino de Alencar e Manuel Cândido para analisar o caso. Esta comissão declarou que o fenômeno era uma farsa. Baseado no segundo relatório, Dom Joaquim mandou enclausurar a beata Maria de Araújo em um convento e suspendeu as ordens sacerdotais do Padre Cícero.

Emancipação
Desde o início do século XX que a Vila de Tabuleiro Grande buscava desvincular-se do Crato. Como argumento principal o fato de que a Vila se tornara maior e mais importante que a sede. De fato, Tabuleiro Grande apresentou um crescimento surpreendente, chegando a rivalizar até mesmo com a capital Fortaleza. O movimento, em prol da emancipação, ganhou força em 1909, com a chegada do padre Alencar Peixoto e de José Marrocos. Juntos, eles fundaram o jornal O Rebate que se tornou o principal difusor do projeto. No mesmo ano, houve uma greve geral da população, causando prejuízos à economia do Crato. Em 1910, foi organizada uma passeata pela emancipação, reunindo aproximadamente quinze mil pessoas. Em 22 de julho de 1911, a emancipação que é concedida através da lei n° 1.028, o novo município passa a se chamar Joaseiro (uma referência à árvore típica da região), e Padre Cícero é eleito o primeiro prefeito.

Influência nordestina
A cidade de Juazeiro do Norte exerce forte influência sobre todo Sul do Ceará, e áreas dos estados de Pernambuco, Piauí, Paraíba e Rio Grande do Norte, sendo um importante centro de compras e serviços regionais. Todo este desenvolvimento resultou em uma grande integração com os municípios de Crato e Barbalha, que juntos formam a chamada conurbação Crajubar.

Em 9 de junho de 2009, a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará aprovou a criação da Região Metropolitana do Cariri, sendo a lei sancionada pelo Governador Cid Gomes em 29 de junho de 2009. A Região Metropolitana do Cariri é composta por nove municípios: Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Missão Velha, Caririaçu, Farias Brito, Nova Olinda, Santana do Cariri e Jardim.

A administração municipal de Juazeiro do Norte é exercida pelo prefeito dr. Santana (PT) e o vice José Roberto Celestino (PSB). A Câmara Municipal é composta por 14 vereadores. O Poder Judiciário se faz presente na cidade com a Justiça Federal (uma Vara e um Juizado Especial), Justiça Estadual (cinco Varas e dois Juizados Especiais), Justiça do Trabalho (uma Vara) e Justiça Eleitoral (duas Zonas eleitorais). Juazeiro do Norte possui o terceiro maior colégio eleitoral do Ceará com 157.244 eleitores.

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