Um texto de 2009 atualizado como se fosse de hoje

Em 2009 quando estorou a crise financeira mundial, pediram na pós-graduação de Turim-Itália as repercussões na região Nordeste do Brasil, um texto ao aluno, médico Dr. Márcio Barreto Mano de Carvalho, CEO do Hospital Maternidade Santa Izabel, perseguido pelo prefeito Teixeira, procurado pela Polícia e furagido.

Os efeitos da crise no interior do Ceará.

Na minha região o que percebo é que tais efeitos pouco afetaram negativamente a rotina dos cidadãos. Pelo contrário, percebe-se um aquecimento gradual do comércio, pequenas construções residenciais, reformas e ampliações visíveis, pontuais, mas acima da média.
O microcrédito viceja e as pessoas investem no concreto, motocicleta, casa, eletrodomésticos.. À noite os bares funcionam praticamente todos os dias, não lotados, mas percebe-se um movimento maior (agora, período de férias escolares).
Onde trabalho, área de saúde, as mazelas continuam e a grande dificuldade é conseguir profissionais, principalmente médicos, que queiram morar no interior. Não há atrasos nos pagamentos dos serviços prestados ao setor público, mas as tabelas estão defasadas em 60%. É como se tivéssemos uma melhora, uma recuperação, do miserável para o pobre.
Um artigo publicado esta semana na imprensa bem demonstra estes fatos. Diz o texto que a renda da população do Nordeste, região mais carente do Brasil, cresceu nos últimos anos impulsionada pelo fortalecimento da economia nacional e pelos programas de transferência de recursos como o Bolsa Família. O dado negativo é que isso não refletiu em melhora na qualidade de vida das pessoas que apenas sobrevivem nesses estados e nem contribuiu para um desenvolvimento local sustentável. Serviços essenciais a que todos deveriam ter acesso como saúde de qualidade, educação universal, moradia adequada e segurança apresentaram um crescimento bem abaixo da média do aumento de renda.
Os dados são de uma pesquisa feita pela FGV Projetos, que apresenta amplo diagnóstico das mazelas e conquistas socioeconômicas dos nove estados nordestinos, entre os anos de 2001 e 2007. Portanto, antes da crise. O levantamento traça um retrato detalhado da região com base em 36 microindicadores oficiais agrupados em oito temas:
Saneamento básico, qualidade de moradia, educação, segurança pública, renda, emprego, desigualdade e pobreza.
O resultado serve de alerta e também como guia para as autoridades públicas locais. O estudo, concluído em junho último, atribui a falta de reflexos do aumento da renda nos indicadores sociais diretamente à escolha de políticas públicas equivocadas por parte dos governos. “O modelo de pensar o desenvolvimento do Nordeste não trouxe impacto sobre a qualidade de vida e os indicadores de desenvolvimento socioeconômicos da população”, afirma o coordenador do estudo, o economista Fernando Blumenschein.
Na minha região, nem a crise, penso eu.

Abraços,

Márcio Barreto.



Bem atual, não?

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