Senador, um cidade acabrunhada


Quase menino, trabalhando pra ganhar a vida, fui a Senador Pompeu muitas vezes. Gozava da amizade do saudoso médico Adonias Mano de Carvalho, de quem ouvia histórias da cidade na fresca da calçada do seu consultório, esperando a chegada do vento Aracati.Hoje conto nas rodadas com os amigos um fato onde fui personagem. No Hotel dos Viajantes, no pino do meio dia, depois do almoço farto e de muitos quitutes, perguntei pra mocinha que servia à mesa se tinha sobremesa:
- Tem, sim senhor, respondeu.
- O que tem então?, voltei a indagar.
- Tem doce de banana e banana pessoalmente!

Faço sucesso onde chego e conto essa história verídica vivida no meio dos anos 60 do século passado.

Hoje, a calçada do dr. Adonias não há mais. Não há mais o Hotel dos Viajantes nem mesmo viajantes há mais. Aqui acolá um propagandista de remédio, um vendedor de fumo de Arapiraca e muitos, muitos vendedores de drogas, dizem no mercado inacabado e de onde saem outras histórias, essas de corrupção e dor.
Senador é um lugar triste. Medroso. Acabrunhado.
Certa feita um médico amigo meu, psicanalista, nascido em São José do Mipibu, cidade pequenina,pobre e acanhada da Grande Natal, no vizinho Rio Grande do Norte,levou o pai, homem de interior e cheio de sabedoria para uma visita a Paris, onde morava e com quem sorvi bons vinhos, frequentei o Crazy Horse, o La Cupolle, o Chez Beber, entre outros cantos da Paris ilustre.
Passados os 30 dias de férias parisienses, meu amigo foi embarcar o pai no Charles de Gaulle.
COnhecendo sua imensa sabedoria e com receio de provocar algum tipo de reação na cobrança que poderia fazer entender tateou para perguntar ao pai o que havia achado de París.
O velho coçou a cabeça lentamente e, ainda no carro, quase chegando ao aeroporto, respondeu sábio;
- Meu filho, Paris é uma São José do Mipibu sem vergonha de ser.

Tudo isso pra tentar traduzir Senador Pompeu de hoje: É uma Senador Pompeu morrendo de vergonha de ser.

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