Parada - Diversidade Sexual reúne milhares na Beira Mar


As histórias da parada gay de Fortaleza
Por Sara Oliveira
saraoliveira@oestadoce.com.br

Em 2011, o dentista João Fagner e o professor Tiago Cabral puderam oficializar sua união, que já durava quatro anos. Ontem, durante a XII Parada pela Diversidade Sexual do Ceará, que reuniu milhares de pessoas, cores, opiniões e amores na avenida Beira Mar, o casal lutava por mais uma conquista. Lema do evento e esperança para a concretização do direito, a aprovação do Projeto de Lei 122, que criminaliza a homofobia, mobilizou poder público, organizações, associações, entidades e sociedade.

As fantasias, os gritos de apoio, a dança embalada pelos seis trios elétricos e a animação de um evento festivo, ao mesmo passo que representava comemoração, estava impregnado de luta. A reivindicação em forma de alegria tinha a função de chamar atenção a cada assassinato motivado por homofobia, que acontece, mensalmente, no Ceará. Um crime “embutido” ao preconceito contra cerca de 30 mil jovens, entre 15 e 29 anos, que são homossexuais em Fortaleza.

Mais de 36 grupos organizados no Estado estão envolvidos no movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgênicos (LGBT). O que pode-se constatar em um evento como o de ontem, é que heterossexuais também estão ativos quanto à defesa de direitos de liberdade. Esta relação entre gêneros, para o presidente do Grupo de Resistência Asa Branca (Grab), Francisco Pedrosa, reforça a luta pelas tantas causas do movimento.

AMOR E POLÍTICA
Entre os muitos objetivos da Parada, que teve início às 13h30 e durou até meia-noite, o amor foi predominante. A madrinha do evento, a professora Alba Carvalho, doutora em Sociologia, destacou a importância da política em um momento de conquistas para o movimento LGBT. No alto do trio elétrico, Alba recebia a multidão que desfilaria na avenida, e reconhecia o sentimento que faz pessoas do mesmo sexo unirem-se. “A comprovação de sentimentos precisa, porém, estar aliada ao avanço da discussão de direitos dentro da política”, avaliou.

A necessidade de políticas é ressaltada também pelo representante da Coordenadoria da Diversidade Sexual da Prefeitura de Fortaleza, Orlaneudo Lima. O órgão foi um dos organizadores da Parada e desenvolve ações que destacam os direitos do movimento LGBT na Capital. “A Prefeitura tem obrigação de acompanhar as mudanças da sociedade, principalmente, porque é preciso avançar nas políticas públicas”, ressaltou Orlaneudo.

Conforme ele, as relações entre os movimentos e o governo facilitam, de forma efetiva, o combate à homofobia, por exemplo, no interior do Estado. “As parcerias fazem a informação chegar mais longe”, disse o coordenador. Orlaneudo acrescentou que ainda, em 2011, será criado um Plano Municipal de Combate à Homofobia.

PL 122 CONTRA HOMOFOBIA
De acordo com o deputado federal Artur Bruno (PT), o Projeto de Lei 122 já foi aprovado pela Câmara Federal e está aguardando aprovação também no Senado. Já são 10 anos de espera para um “sim da legislação”. Ele explicou que mudanças foram realizadas no PL a fim de acelerar a aprovação. “Um recente artigo, criado pela relatora do projeto, a senadora Marta Suplicy, permite que posições contrárias à homossexualidade sejam manifestadas, porém, apenas em templos fechados”, relatou o deputado.

A expectativa é que o Senado execute a aprovação ainda neste ano, mas Artur Bruno ressaltou que os parlamentares ainda estão divididos. “A presença de milhares de heterossexuais apoiando as causas de hoje ajuda a pressionar o Congresso Nacional, que recebeu uma ‘lição’ do Supremo Tribunal Federal (STF)”, considerou, referindo-se à aprovação da união entre pessoas do mesmo sexo.

RESISTÊNCIA AO PRECONCEITO

Maria Aurélia Fernandes, 32, e Maria de Jesus Cruz dos Santos, 33, namoram há pouco mais de um ano. A descoberta quanto à opção sexual surgiu na adolescência e, hoje, é assumida pelas mãos dadas e o apoio à Parada pela Diversidade Sexual no Ceará. “É esse o jeito de fazer as pessoas nos aceitarem, nos mostrando”, falou Aurélia. Para ela, a resistência de pessoas mais velhas é o maior empecilho quando fala-se em compreensão de direitos.

“A união entre homossexuais foi muito significativa, principalmente, porque temos uma política demagoga, que ainda esconde o preconceito através da impunidade e do desrespeito”, opinou Maria de Jesus. Assim como as duas mulheres, Tiago Cabral e João Fagner ressaltaram a importância de assumirem sua sexualidade. “Quando confirmamos que somos casados, estamos lutando em prol de um direito que nós mesmos, às vezes, deixamos passar, por vergonha do preconceito”, ressaltou.

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