José Sócrates, o surfista da crise portuguesa


O outro sou eu

Lisboa, 3 jun (EFE).- José Sócrates, líder socialista e primeiro-ministro de Portugal, tenta escapar, com a habilidade dos melhores surfistas, da onda gigante de uma crise que varreu o país e fez naufragar seus cinco anos de Governo.

Otimista, tenaz e muito ativo, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa enfrenta novo veredicto das urnas 20 meses depois de sua apertada vitória nas eleições de 2009, cujo mandato de 4 anos não pôde completar.

A crise econômica esteve presente desde o início do segundo e breve Governo do primeiro-ministro, que considera seu país e sua Administração vítimas da tempestade financeira internacional provocada há três anos pelas hipotecas dos Estados Unidos.

O político, que se orgulhava de ter vencido o crônico déficit fiscal da economia portuguesa, foi derrubado sem compaixão pela onda de calamidades de um ano horrível para a economia lusitana.

Mesmo a galopante desconfiança dos mercados e falta de fontes de financiamento não fizeram Sócrates pedir o resgate de Portugal, embora alguns especialistas considerassem a medida inevitável.

O político de 53 anos teve que finalmente jogar a toalha após a mudança de postura da oposição conservadora, que decidiu não apoiar seu quarto plano de austeridade e forçou, em março deste ano, a renúncia do Executivo e a convocação de eleições antecipadas.

Reeleito secretário-geral de seu partido com 93,3% dos votos, Sócrates volta a se apresentar às urnas com um programa de Governo que tenta destacar a política social, as energias limpas e as novas tecnologias.

Mas, caso saia vencedor das eleições, o atual primeiro-ministro terá que governar sobretudo para cumprir as medidas de austeridade e as reformas econômicas exigidas pelo resgate financeiro - anunciado por Sócrates como um "bom acordo" com o Fundo Monetário Internacional e com a União Europeia.

Divorciado e pai de duas crianças, Sócrates teve um primeiro Governo cômodo e destacado pela aprovação do Tratado de Lisboa, que reformou a União Europeia durante a Presidência lusitana de 2007. Com fama de socialista pouco ortodoxo, a ressonante vitória com que presenteou seu partido em 2005 iniciou uma espécie de "terceira via à portuguesa".

Suas reformas econômicas e trabalhistas sofreram contestação de sindicatos e da esquerda marxista, e não serviram para evitar os efeitos da crise da dívida soberana. No plano social, Sócrates introduziu leis para descriminalizar o aborto, facilitar o divórcio e legalizar o casamento homossexual, o que lhe valeu a rejeição da população mais católica.

Formado em Engenharia Civil, o atual primeiro-ministro ingressou nas fileiras do Partido Socialista pouco depois da Revolução dos Cravos, com apenas 16 anos, se projetou na política nacional como deputado e depois como secretário de Estado e ministro do Meio Ambiente, entre 1997 e 2002.

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