Educação - 10 horas por dia na escola e essa geração terá uma profissão


A Samile Medeiros tem o sorriso aberto da juventude estudante e a irreverência própria da idade. Mora no Conjunto Jereissati, mas passa o dia inteiro, de sete da manhã às cinco da tarde, na escola. Lancha às nove, almoça perto do meio-dia, lancha às três da tarde. Nos intervalos assiste aulas. Ela e as amigas Leybna Araújo e Paula Ingred Pereira, formam um trio que de tão ligadas acabaram virando monitoras de matérias que veem na 9a série,ou o primeiro ano do segundo grau, aquele velho e bom científico dos bons tempos.

As três amigas são parte dos 180 alunos da Escola Estadual Profissionalizante Maria Carmem Vieira Moreira, na Pajuçara, no vizinho município de Maracanaú, coisa de meia hora para o Centro de Fortaleza, nas proximidades da Ceasa e parede-meia com o Distrito Industrial que acolhe milhares de empregos para quem tenha especialidades, experiência ou, simplesmente, uma profissão definida, como a que as moças e os rapazes da Escola Maria Carmem, perseguem, em tempo integral de estudos e imersão profissionalizante.

A Escola é dirigida pela pedagoga Gláucia Maria Mena Barreto, e oferece os cursos de tecelagem, secretariado, química e vestuário. Nada mais correto para quem mora na região, ou nas proximidades. No Distrito Industrial há tecelagem, necessidades de bons secretários, químicos e gente que trabalhe com design para um complexo industrial cada vez mais crescente, precisando de quem toque projetos desenhando roupas, coleções, enfim, para atender a um mercado cada vez mais exigente.

Mas só 180 alunos para um complexo instalado em mais de 10 mil metros quadrados? Ledo engano. A capacidade da escola é de 540 alunos. Só que como esta é a primeira turma, o alunado faz uma espécie de básico, com duração de seis meses, ao invés do ano inteiro do básico de uma universidade. Em seguida, os dois anos de meio do segundo grau, serão puramente técnicos, à procura do tão sonhado diploma profissional, no caso aí, de tecelão, secretário, químico e design de vestuário.

Na medida em que essa turma passar para a parte técnica, chegará uma nova turma e assim por diante, até que se fecha o ciclo com 540 alunos. Uma estrutura física de fazer inveja; padrão MEC, com laboratórios... vamos pela ordem: São doze salas de aulas, quatro laboratórios: química, física, biologia e informática e salas técnicas em regime de instalação, havendo salas especiais para as aulas práticas das matérias em estudo. Complementam o complexo, um ginásio poliesportivo, um restaurante, auditório de alto nível e uma biblioteca para pesquisa e sala de leitura.

A Secretaria de Educação do Estado, para montar o corpo docente da Escola, pesquisou mestres que quisessem se engajar no projeto. Alguns fizeram a adesão e outros, lotados em outras escolas ,começaram a examinar se era aquilo que queriam, dar aulas num esquema profissionalizante. O acesso viria através das aptidões e das necessidades da cada mestre que formam um grupo de 33 profissionais que regem a Escola, incluindo da diretora Gláucia à Secretária. O restaurante e a segurança, são terceirizados.

No restaurante, são servidas por dia 639 refeições. São 213 merendas da manhã, 213 almoços e 213 lanches da tarde. Canja, certas vezes pela manhã, almôndegas no almoço, e um terceiro prato à tarde, antes de enfrentar o último turno de aulas e voltar para casa às cinco horas. Uma maratona que dá gosto ver. Tudo muito limpo, organizado, tudo muito profissional e, principalmente, numa relação simplesmente inteira entre docentes e discentes, fórmula mágica para aprendizagem e, também, compensar perdas por métodos diferentes de escolas anteriores.

A escola, no que pese estar em um complexo residencial absolutamente diferente de seu padrão, já mudou a face da vizinhança. As pessoas estão felizes com a grandeza do vizinho, alegres pelo equipamento que já começaram a utilizar, e com um novo ar de segurança que brotou desde que o prédio começou a ter suas paredes levantadas. Daniela Ferreira de Paiva, vizinha do portão de entrada da escola, acha que tudo foi muito bom para a juventude que terá a partir dalí uma profissão. O mesmo pensa Sebastião Ferreira e a namorada Mariana Soares Floriano; - Foi muito bom para todo mundo, dizem quase num uníssono.

Em uma sala de aula perguntamos ao grupo quem dali tinha verdadeiramente pendores para a tecelagem; todos os indicadores voltaram-se para Paulo Júnior, um menino de 15 anos, olhar sério, postura grave. – Eu moro aqui perto. É bem perto do pólo industrial. Quando vi o anúncio na minha escola antiga, não contei duas vezes; procurei fazer a matrícula aqui. Por quê tecelagem, insistimos na pergunta. – O Polo Industrial de Maracanaú precisa de profissionais com essa especialidade. Eu vi que era minha oportunidade. Vim e estou gostando muito.

Como Paulo, são muitos os que buscaram na escola a oportunidade de suas vidas. Paulo, Samile, Leybna e Paula Ingred, têm vontades definidas. Samile cursando vestuário, afirma que vai dar nova vida à empresa da mãe que tem uma confecção. Leybna aposta no desenho de roupas e diz que já fez blusas com sua, hoje, pequena experiência. Paula Ingred brinca que vai ser modelo, mas fala sério quando diz que terá grandes oportunidades no trabalho de industrialização de vestuário. Paulo, tem certeza de que será um bom tecelão.

Na esteira desses sentimentos estão histórias que começam a mudar na Pajuçara e em outras 70 escolas profissionalizantes que o Governo do Ceará já implantou em todo o Estado. Ao todo são 71.

A Secretaria de Educação trata do assunto dizendo que o Governo do Estado assumiu o compromisso de promover a articulação do ensino médio com a formação para o mundo do trabalho, que visa ofertar ao jovem cearense uma habilitação profissional técnica e uma vivência de cidadania, além do protagonismo juvenil. Nessa modalidade de ensino, o estudante também terá acesso ao estágio curricular obrigatório e remunerado. A ação é desenvolvida pela Secretaria da Educação(Seduc) que assegura a grande maioria das vagas, um total de 80%, aos alunos da rede pública de ensino, com idade entre 14 e 19 anos. A seleção é feita todo início de ano letivo, por meio da avaliação do histórico escolar, levando em consideração as notas de Português e Matemática. As aulas acontecem nas Escolas Estaduais de Educação Profissional(EEEPs), em todo o Estado.

Implantadas em agosto de 2008, as EEEPs já somam 71 unidades na capital e no interior, atendendo em tempo integral 28 mil jovens. Estão estruturadas em 45 cursos técnicos com três anos de duração. As Escolas de Educação Profissional funcionam das 7 às 17 horas. Os alunos contam com três refeições diárias, elaboradas por nutricionistas, o que garante o fornecimento de alimentação balanceada. Além disso, os jovens recebem livros didáticos e técnicos, apoio permanente à aprendizagem e à formação e contam com laboratórios de ciências e técnicos.

Além disso, as Escolas Profissionais recebem livros didáticos e técnicos, apoio permanente à aprendizagem e à formação. As Escolas de Educação Profissional apresentam um currículo que une as disciplinas do ensino médio às dos cursos técnicos. São modelos inovadores em conteúdo, método e gestão. Um exemplo desse trabalho é o projeto Diretor de Turma, no qual um professor da escola fica responsável por uma determinada turma e acompanha seu desempenho acadêmico e pessoal. Para isso, além do diálogo com o aluno, mantém contato constante com os familiares e a direção da unidade. A ação foi estendida às demais unidades da rede estadual e, agora, além das Escolas Profissionais, mais de 500 aderiram à iniciativa.
Soa indispensável dizer que a obra contou com recursos dos Governos Estadual e Federal no valor de R$ 8,6 milhões. A unidade segue a concepção de qualidade prevista pelo MEC para escolas de educação profissional. Funcionará numa estrutura de 4,5 mil metros quadrados, e a aprendizagem dos estudantes ganhará reforço com as aulas práticas nos laboratórios tecnológicos, de Línguas, Informática, Química, Física, Biologia e Matemática. O esporte e a cultura também terão espaço no cotidiano escolar.

Por isso, a comunidade vai contar com uma quadra poliesportiva e um teatro de arena com estacionamento para 40 vagas. A construção foi supervisionada pelo Departamento de Arquitetura e Engenharia do Ceará (DER), órgão vinculado à Secretaria da Infraestrutura (Seinfra).
A escola que ofertará os cursos técnicos de Tecelagem, Secretariado, Química e Vestuário, será a sexta unidade a fazer parte da 1a Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação(Crede), que além de Maracanaú, tem escolas localizadas em Caucaia, Itaitinga, Maranguape e Pacatuba, onde a aprendizagem respeita a vocação econômica da região, reconhecida por ser um polo industrial. Iniciada em 2008, a implantação das escolas de educação profissional tem o objetivo de oferecer formação profissional técnica integrada à educação básica, tendo em vista a inserção qualificada dos estudantes no mundo do trabalho.

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