CARTAS DE HAVANA




Enviado por Ana Carolina Boccardo Alves

Direito de ir e vir
Como prometido semana passada, vou relatar os procedimentos necessários para que um cubano possa sair de seu país.

Não basta ter passaporte, dinheiro e passagem/visto. Ele precisa de uma autorização de saída do governo, cujo nome oficial é "Permissão de Saída".

Pois bem. Para isso, é necessário pedir autorização para a viagem no trabalho ou escola (no caso dos estudantes), mesmo se tiver férias naquela data.

Essa carta é chamada "Carta de não-objeção" e deve afirmar que eles não se opõe ao fato de que se queira viajar ao exterior.

Se não quiserem por qualquer motivo que ele saia, podem impedir. Essa carta é necessária ainda que ele tenha se demitido do trabalho há anos e em alguns casos pode demorar meses ou anos até liberarem a carta. É lacrada e somente a Imigração pode ler.

Para confeccionar o passaporte, preenche-se um formulário explicando: se vai sair de férias ou definitivamente, quantas vezes já saiu do país, qual sua integração revolucionária (organizações políticas), se possui membros da família no exterior e se os mesmos saíram de Cuba ilegalmente. Paga 55 CUC em selos (comprados em banco).

Então, é necessário apresentar-se à Imigração para pedir permissão para a viagem. No caso de turismo, entrega-se passaporte com o visto do país, a carta do trabalho e uma carta-convite de alguém desse país se responsabilizando por ele. Essa carta tem que ser feita no consulado cubano do país para o qual se vai viajar e custa 200 CUC (dólares).

Só estão liberados da carta casos de família nascida no exterior, estudos ou dupla nacionalidade. Se um cubano tem interesse turístico mas não conhece ninguém naquele país simplesmente não pode viajar.

No caso de reunião familiar (como o do meu marido), se dispensa também a carta-convite e se apresenta a certidão de casamento. Feito isso, paga-se 150 CUC no banco e vai para uma entrevista.

Se aprovado, eles estampam no passaporte que tem o direito de sair, para onde e por quanto tempo. Se não aprovado, não sai. Não cabe apelação.

Cada vez que queira sair o processo se repete e o pagamento das taxas também. Devido à imensa quantidade de cubanos que querem sair, fica-se horas na Imigração. No nosso caso, seis horas e meia.

No total da brincadeira foram mais de 1900 dólares e três meses de trabalho para que pudéssemos "tirar" meu marido daqui.

Desde então, não consigo mais chamar a "Permissão de Saída" por esse nome. Para mim, um documento assim chama-se "Carta de Alforria".

Ana Carolina é jornalista, couchsurfer e autora do blog "Eu moro onde você tira férias"

Está no blog do Noblat e publico como forma de ratificar certas informações que dou a uns apaixonados pelo regime cubano (eu adoro Cuba) e que, por não conhecerem o país ou terem ido lá uma única vez, cercados dos salamaleques engenhosos, armados para inocentes úteis, vivem a falar maravilhas contra o embargo e etc e tal.

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