120 dias - Férrer é criticado por votar contra licença


Por Bruno Pontes
Da Redação do Jornal O Estado

O deputado Heitor Férrer (PDT) foi repreendido ontem por seus pares por ter votado contra a licença médica da deputada Rachel Marques (PT), aprovada por todos os demais parlamentares na semana passada. Acusaram-no de insensibilidade e de explorar politicamente o infortúnio da petista.

Rachel alegou sentir cefaleia, vertigens e dores musculares e obteve licença de 120 dias da Assembleia Legislativa. Heitor informou que encaminhará o parecer médico da Casa ao Conselho Regional de Medicina para saber se o período é justificado. “O que eu estou questionando não é a conduta da deputada Rachel Marques, que sempre foi exemplar. O que eu questiono é a conduta do profissional médico. Se eu estiver errado, venho à tribuna e peço desculpas”.

A explicação de Heitor não surtiu o efeito que ele esperava, e logo vieram as reprimendas, a começar por Doutora Silvana (PMDB), que ocupou a vacância de Rachel. Ela afirmou que os sintomas apresentados pela petista podem ser o prenúncio de algo grave como um Acidente Vascular Cerebral (AVC), sendo necessário portanto um longo período de repouso e observação, e negou que a licença tenha sido combinada para que ela assumisse a vaga.

Uniu-se a Silvana o deputado Tin Gomes, segundo vice-presidente da Assembleia, que defendeu o parecer dos seus colegas de Mesa Diretora em favor de Rachel. “Se algum deputado acha que o melhor caminho é levar o caso ao Conselho Regional de Medicina, então mudemos o regimento. Agora, vamos respeitar o modo como a Casa trabalha. O presidente Roberto Cláudio não iria abonar um atestado suspeito”.

Tin frisou que o pedido de Rachel foi analisado e aprovado pelos quatro médicos que formam a junta médica da Assembleia e pelos deputados médicos que integram a Comissão de Saúde da Casa. Assim, entendeu ele, Heitor recorreria em vão a uma entidade fora da Assembleia. “O requerimento passou pela comissão médica da Casa e passará em qualquer conselho e em qualquer perícia do Estado. Se o deputado Heitor tem algum questionamento, tem que questionar a Mesa”.

“TOTALMENTE DESCABIDO”
Antônio Carlos (PT), líder do governo, achou “totalmente descabido” o gesto de Heitor. “A deputada tirou licença de forma legítima, dentro dos parâmetros que regem a Casa. Eu já percebia que ela não estava no melhor de suas condições. A crítica pode até vir, mas ela atingiu a pessoa errada na hora errada”.

Heitor voltou à tribuna para reforçar seu ponto de vista. “Estou questionando a conduta do médico porque ele está dizendo que enxaqueca, vertigem e dores musculares dão direito a 120 dias de licença. Vão ao INSS saber se enxaqueca, vertigem e dores musculares suscitam uma licença de 120 dias. Se o Conselho Regional de Medicina determinar que essa patologia garante esse espaço de tempo, ele dirá que essa patologia dá aos demais trabalhadores brasileiros o mesmo direito”.

“O SENHOR ESTÁ SENDO MALVADO”
Doutora Silvana replicou: “A impressão que dá é que o senhor está aproveitando a doença da Rachel para crescer em cima. Vai ser difícil o senhor me convencer de que o senhor não foi malvado.

Reafirmo que o senhor está sendo malvado. Não devemos trabalhar em cima da miséria de ninguém. Prezo sua conduta como deputado, mas não esta. Tenho certeza de que o senhor sabe que ela está doente”.

Treplicou Heitor: “O Brasil é um país construído em cima de privilégios. O trabalhador não tem esse privilégio que a senhora defende. Sobre esse tema há pelos menos três pontos de vista: o meu, o seu e o do povo que acompanha essa discussão. O povo há de julgar”.

COLEGAS SOLIDÁRIOS
Outros deputados falaram em defesa de Rachel. “Ela tirou licença de 30 dias no início da legislatura por vertigem e não conseguiu resolver o problema. O seu estado de saúde é incompatível com a atividade parlamentar. A Rachel não estava conseguindo nem se pronunciar. Sou solidário à companheira”, disse Dedé Teixeira (PT).

Mirian Sobreira (PSB) lembrou que a petista havia organizado um seminário sobre o Plano Nacional de Educação do qual não mais participará por causa da doença. ”Ela até chorou por conta do seu estado de saúde. Ela está com labirintite e tem que dormir sentada”. Lula Morais (PC do B) observou que qualquer um na Assembleia era capaz de notar que “a Rachel, este ano, não está nas suas condições normais de saúde”.

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