Judas -Comércio e tradição durante a Semana Santa


Por Sara Oliveira
saraoliveira@oestadoce.com.br

O comércio tradicional dos bonecos de Judas já ganha as ruas de Fortaleza. A cultura popular, que consiste na queima do boneco, é negócio para alguns e entretenimento para outros. A estrutura do Judas é sempre a mesma, diferenciada por roupas e objetos temáticos, que os deixam mais atrativos e caros. No próximo sábado, quando famílias estarão reunidas vivenciando a Semana Santa, o símbolo da traição feita a Jesus, resultado do trabalho de artesãos, será malhado, ou seja, será surrado e estará em chamas.
No cruzamento das avenidas Raul Barbosa e Murilo Borges as várias esquinas servem como vitrines para a arte momentânea. A venda é temporária, mas o trabalho de confecção dos bonecos tem início meses antes da Páscoa. Jean Carlos Alves, o “Zé do Judas”, pintor, disse que o ofício artesanal está na família há décadas.

“Desde o meu bisavô que minha família produz os bonecos”, contou. Segundo ele, os preparativos da produção dos Judas acontecem desde outubro do ano passado. “Precisa de muito tempo para fazer a cabeça, e precisa ser bem feito”, frisou Jean.

Jornal, madeira, pregos, retalhos e roupa, além de habilidade. Esses são os instrumentos necessários para fazer um Judas. O “brinquedo” veste, na maioria das vezes, terno, calça de linho e sapatos, que devem estar polidos. Estes custam cerca de R$ 100. Se quem for queimar o Judas quiser uma brincadeira temática, camisas de time e caricaturas de personalidades famosas podem fazer parte do boneco. Neste caso, o gasto será de R$ 150. “Tem um cliente que pede sempre o do Bin Laden”, acrescentou o Zé do Judas.

NEGÓCIO E APRENDIZADO
Jean diz que o dinheiro obtido em abril com a venda dos bonecos sustenta sua casa por muito tempo. “O ano passado eu ‘tirei’ R$ 3 mil. Este ano devo ganhar de R$ 4 mil a R$ 5 mil”. Os ensinamentos e as possibilidades de ganhar um dinheiro extra, perpassam gerações e também pelas amizades. Nas outras esquinas do cruzamento, amigos de Jean já produzem e vendem seus bonecos próprios.

“Faço isso há três anos. Assim como eu, tem muita gente aqui do bairro que aprendeu com o Zé dos Bonecos. Não é fácil de fazer, mas o dinheiro é muito bom. Dá para comer um peixinho na Semana Santa”, ponderou Ivaniltom Silva Ferreira. Ele explicou o passo a passo da confecção do boneco. As profissões, em época de Páscoa, se invertem. Ivaniltom, que é auxiliar de mecânica, vira bonequeiro profissional.

Conforme Ivaniltom, a cabeça do boneco é feita de jornal. “Amassamos o papel, colocamos de molho na água e despedaçamos. Depois colocamos em um saco de nylon grande para secar e, em seguida, colocamos com grude”, explicou. A substância que gera a cola é feita de goma e a mistura, em tempo certo, de água fria e quente. O corpo do boneco é feito de madeira. “Tiramos as medidas do nosso corpo mesmo. São, por exemplo, 25 cm de cintura e 30 cm de ombro. Colocamos arame por dentro de todo o boneco, que é para queimar mais fácil”.

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