Entrevista Especial - A jovem direita aparece sem medo

Entrevista - "Sociedade está órfã de representação política"
“A punição que os bons sofrem, quando se recusam a tomar parte do governo, é viver sob os governos maus”. A sentença anterior é atribuída ao filósofo da Grécia Antiga Platão, cujos escritos ajudaram a construir as bases do pensamento ocidental. A expressão platônica também poderia servir para resumir com propriedade as ações do advogado Ricardo Salles, 35 anos, presidente do Movimento Endireita Brasil (MEB). Nesta entrevista ao jornal O Estado, Salles reitera a importância da luta pela diminuição do Estado e pelo fim de todos os mecanismos que limitam ou ferem a liberdade do cidadão. “Nossa premissa é que a escassez de pessoas de bem, deixa o espaço público na mão de maus políticos”, enfatiza o advogado, um dos principais apoiadores do Dia da Liberdade de Impostos. Salles também discorreu a respeito da ditadura do politicamente correto e do peso do patrulhamento ideológico exercido pela esquerda. “Essa farsa precisa ser desmascarada pela direita liberal, sem medo de contrariar a estratégia gramsciana do PT e afins”. O advogado falou ainda sobre a ampla parcela do eleitorado órfão de representação política no Brasil. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

O Estado: Como nasceu o MEB e com quais objetivos? Quais bandeiras vocês defendem?
Ricardo Salles: O MEB nasceu em 2006 como forma de viabilizar a participação de pessoas do setor privado na vida pública. Nossa premissa é que a escassez de pessoas de bem, deixa o espaço público na mão de maus políticos. Defendemos as bandeiras de uma direita-liberal: estado enxuto e eficiente, liberdades individuais, defesa do direito de propriedade, livre iniciativa etc.

OE: Fale do Dia da Liberdade de Impostos.
RS: Trata-se de uma iniciativa conjunta de varias entidades que buscam com isso mostrar ao cidadão o quanto pesam os impostos no dia a dia de cada um, e a necessidade de redução do tamanho do Estado como única forma concreta de reduzir consistentemente os impostos no Brasil.

OE: Como angariar e formar simpatizantes do liberalismo num país onde o estatismo é tão forte?
RS: Mostrando que os países que lograram obter o desenvolvimento sustentado seguiram a maioria das fórmulas liberais, com mais ou menos ênfase, mas seguiram. Além disso, a questão das liberdades tem sido uma peça chave nessa estratégia, uma vez que o Estado sufoca cada vez mais o cidadão comum, seja através de impostos, regras ou burocracia excessiva.

OE: Sua candidatura a deputado estadual mais de 26 mil votos. É um bom sinal?
RS: Num País tão massacrado pelas ideias de esquerda nos últimos 20 anos, é de surpreender que uma candidatura austera e transparente, sem fisiologismo ou clientelismo, tenha logrado 26 mil votos apenas com base na defesa de princípios e ideias liberais. Acredito que seja um ótimo sinal.

OE: Existe algum partido brasileiro que defenda minimamente as bandeiras da direita?
RS: Sim, o Democratas tem bandeiras de uma direita liberal.

OE: Lula comemorou o fato de que na eleição presidencial de 2010 não haveria nenhum candidato de direita. Isso é bom para a democracia?
RS: Isso não é bom para a democracia, e demonstra o quanto essa campanha de demonização dos termos Direita, Liberal ou Conservador vem sendo sistematicamente implementada pela esquerda. Em todos os países sérios do mundo há partidos e políticos de esquerda, centro e direita, cada um representando uma parcela específica do eleitorado. No Brasil, falta-nos assumir que há, sim, uma parcela significativa da sociedade que não é de esquerda e sente-se órfã de representação por candidatos que assim se assumam.

OE: Contrariando a análise expressa por Lula, os petistas “acusam” o PSDB de direitismo. Há fundamento na tese de que a social-democracia está à direita do espectro ideológico?
RS: De maneira nenhuma. A social-democracia está à esquerda. Obviamente que o PSDB é centro-esquerda, com o bom senso de adotar certas bandeiras liberais na área econômica e que foram o motivo do sucesso dos anos FHC.

OE: Por qual razão ninguém na política partidária se assume de direita? José Agripino Maia, ao assumir a presidência do DEM, disse defender o liberalismo, mas recusou o que chamou de “a pecha de direita”.
RS: Essa pecha só existe por que os de direita não souberam, a seu tempo e modo, explicar o que vem a ser direita e liberalismo. Curvamos-nos ao patrulhamento ideológico da esquerda, que por sua vez impõe uma espécie de “ditadura do politicamente correto”. Só eles parecem ter a prerrogativa de ditar o que é ou não politicamente correto. Essa farsa precisa ser desmascarada pela direita liberal, sem medo de contrariar a estratégia gramsciana do PT e afins.

OE: Em termos políticos e econômicos, quais pessoas, aqui e no mundo, vocês consideram inspiradoras para o MEB?
RS: No exterior, há excelentes nomes políticos como Margareth Thatcher, Ronald Reagan e Winston Churchill ou econômicos como Mises, Hayek e Friedman. No Brasil tivemos Roberto Campos, Joaquim Nabuco, Júlio de Mesquita etc.

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