Em Ouro Preto, Dilma compara-se aos inconfidentes


Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Dilma Rousseff esteve em Ouro Preto (MG) nesta quinta (21). Tomou parte das homenagens do Dia de Tiradentes.

Recebeu do governador tucano Antonio Anastasia a Medalha da Inconfidência. Participou de cerimônia no museu dedicado aos mártires.

Depositaram-se ao lado das lápides de 13 inconfidentes sepultados no local os restos mortais de outros três.

Chamam-se José de Resende Costa, João Dias da Mota e Domingos Vidal de Barbosa. Banidos para a África, morreram há mais de 200 anos.

Tiveram as identidades confirmadas por meio de exame das ossadas. Coisa feita por especialistas da Faculdade de Odontologia da Unicamp, em Piracicaba (SP).

Ao discursar, Dilma traçou um paralelo entre os inconfidentes mineiros do século 18 e os ativistas que combateram a ditadura militar (64-85).

Comparou o banimento dos três inconfidentes enviados pela Coroa Portuguesa à África ao exílio dos ativistas de esquerda:

"Eles foram exilados por haverem se atrevido a desejar um Brasil independente. Na nossa história, muitos tiveram que se exilar por desejar também liberdade e democracia".

Mais adiante, Dilma incluiu-se na analogia. Comparou-se aos revoltosos mineiros que arrostaram suplícios no Brasil:

"Os brasileiros e brasileiras que, como eu, sofreram na pele os efeitos da privação de liberdade sabem o quanto a democracia institucional faz falta quando desaparece".

A comparação soou imprória. A inconfidência foi um movimento burguês. Teve, por assim dizer, origens tributárias.

Brigava-se contra a taxação compulsória imposta por Portugal à extração do ouro. Buscava-se a independência de Minas.

Os inconfidentes inspiravam-se no iluminismo francês e na independência norte-americana.

A militância que foi às armas contra a ditadura escorava-se em valores soviéticos. Nem todos almejavam a democracia.

Desejava-se substituir um totalitarismo por outro. Assim como os militares, parte expressiva da esquerda oferecia ao povo a “liberdade” de se deixar mandar.

Num instante em que o governo tenta pôr de pé a Comissão da Verdade, já não fica bem falar de coisas definitivas sem definir muito bem as coisas.

Melhor apurar os desatinos cometidos pelos dois lados, incluindo o hediondo crime da tortura, sem envolver a turma de Tiradentes na encrenca.

Em seu discurso, o governador Anastasia realçou semelhanças, digamos, mais apropriadas.

O pupilo de Aécio Neves cobrou do governo federal a revisão do modelo tributário do setor de mineração.

Chamou de “injusto” o sistema atual. Como o ouro já foi apropriado por Portugal, o governador ocupou-se do minério de ferro. É retirado do solo mineiro, segundo ele, sem retribuições ao Estado.

“Mesmo o principal tributo estadual, o ICMS, não incide quando este produto é exportado”, disse o governador.

Anastasia aproveitou a ocasião para recordar a Dilma o apoio que ela dera à revisão da sistemática de cobrança de royalties da mineração.

Hoje, Minas recebe entre 0,2% e 3% do faturamento líquido das mineradoras, dependendo do tipo de produto. O Estado quer mais.

Em resposta, Dilma repisou a promessa: “Mais uma vez externo aqui o meu compromisso com o envio do marco regulatório do setor de mineração...”

“...Não é justo, nem tampouco contribui para o desenvolvimento do Brasil, que os recursos minerais do país sejam daqui tirados e não haja a devida compensação”.

Além de morder, Anastasia teve a delicadeza de assoprar. Injetou nos fetejos da Inconfidência uma homenagem às mulheres mineiras.

Realçaram-se duas: Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, conhecida como Marília de Dirceu; e Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira.

Viveram na velha Vila Rica de 1789. Foram testemunhas da conspiração dos inconfidentes contra a Coroa.

Jeitoso, Anastasia enganchou no discurso um afago à mineira Dilma:

“São estas mulheres e milhões de outras que fizeram e fazem a história de Minas e do Brasil...”

“...Temos, assim, orgulho de ser mineira a primeira mandatária suprema de nossa República”.

Dilma, com a comenda dos Inconfidentes já devidamente acomodada em volta do pescoço, agradeceu:

“Eu, como cidadã mineira e como presidente da República, queria agradecer a honra da medalha que aqui recebi, neste dia...”

“...Também é com emoção e com orgulho que esta medalha agora cobre meu peito, o Grande Colar da Inconfidência...”

“...Agradeço ao povo de Minas e ao governador Antonio Anastasia por esse gesto que tem, para mim, a mais alta relevância simbólica”.

Assim, sob a memória de Tiradentes e Cia., enforcaram-se as pseudodiferenças entre a oposição representada pelo tucano Anastasia e a situação personificada na petista Dilma.

Encerrados os festejos, foram todos almoçar numa fazenda. A propriedade pertence a Walfrido dos Mares Guia.

Ex-ministro de Lula, Mares Guia afastou-se do governo depois que o Ministério Público o denunciou por envolvimento no mensalão tucano de Minas, precursor do mensalão federal do PT.

Penso eu - Ces precisavam ver a cara de militares escutando o discurso da Presidenta.

2 comentários:

  1. Quem disse a esse tal de Stuckert que os que lutaram contra a ditadura militar "inspiravam-se em valores soviéticos?" E o que serão "valores soviéticos"? Serão o volume de recursos que os atuais empresários russos roubaram do povo de lá?
    Quem lutou contra o regime autoritário iniciado em primeiro de abril de 1964 queria um país com eleições diretas, sem censura na imprensa e nas artes etc. Se alguns pertenciam ao Partido Comunista Brasileiro, ligado ao Partido Comunista da União Soviética, é outra história. Havia os ligados a Cuba, à China, à Albânia.Somando todos, eram minoria em relação aos que lutavam, no Congresso e em outras casas legislativas, na imprensa, no rádio e na TV. Enfim, dizer o que esse rapazinho escreveu é atestado de ignorância ou má fé.

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  2. Queima, Frances, queima!
    Já chamou pro pau hoje?

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