A parte mais desagradável do passar do tempo é o detrito acumulado entre o berço e a cova.
Na política, nenhum resíduo é mais desagradável do que o sacrifício humano exigido pelas ideologias.
Nesta terça (5), a ex-torturada Dilma Rousseff discursou para oficiais das Forças Armadas que toleraram a tortura.
O encontro da ex-pregoeira da ditadura de esquerda com os ex-operadores da ditadura de direita foi impregnado de irônica beleza.
Ex-subjugada, agora comandante em chefe, Dilma disse aos ex-opressores, agora comandados:
"Um país que conta, como o Brasil, com Forças Armadas caracterizadas pelo estrito apego a suas obrigações constitucionais é um país que corrigiu seus próprios caminhos e alcançou um elevado nível de maturidade institucional".
Foi a primeira cerimônia de apresentação de novos oficiais-generais à nova presidente da República.
Os “novos” e a “nova” reencontram-se num instante em que, contatado que todas as velhas ideologias falharam, os dois lados diferem as lições do tempo.
O ensinamento mais valioso é o de que a ideologia é o caminho mais longo entre um projeto de país e sua realização.
Ela se absteve de mencionar a Comissão da Verdade, que desperta neles vivas apreensões.
A verdade continua sendo uma para ela e outra para eles. No meio das duas “verdades”, jaz o detrito do sacrifício humano.
Do Josias de Souza
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